Podemos separar este tema em dois âmbitos: o que está diretamente ligado ao caráter ou personalidade, quando a culpa faz parte dos padrões de conduta consequentes de um núcleo fundamental. E um outro que está mais conectado aos erros que causaram dano a si mesmo e/ou a outros.
No primeiro caso, a culpa é utilizada como desculpa inconsciente para manter uma paralisação na ação. Ou melhor, é um padrão repetitivo no qual a pessoa se mantém dentro de um ciclo vicioso, na maioria das vezes sem causa definida, e que ocupa seu estado psicofísico, causando inclusive doenças.
São pessoas que se sentem culpadas por qualquer coisa que possa parecer equivocada. Funcionam como uma esponja que traz para si a razão ou causa de situações que ocorrem no dia-a-dia, desde pequenas coisas como, por exemplo, um filho que vai mal na escola, até coisas mais abrangentes, como a casa constantemente em desordem.
A avalanche de “culpas” faz parte do repertório mental, seja de forma implícita ou explícita, e restringe de maneira surpreendente não só a capacidade evolutiva como também a expressividade nas emoções, sem falar na paralisação da capacidade ativa.
Uma pessoa desse tipo de personalidade sente como se o mundo inteiro a estivesse constantemente acusando, coleciona dificuldades e problemas e esvazia sua tensão interna colocando-se numa posição de vítima incompreendida, esperando que outros reconheçam a carga pesada que leva e, assim, não se responsabilizando pela própria vida.
É muito comum se ouvir a palavra “culpa” de forma generalizada, como se fosse algo que faz parte da natureza humana, e com isso não há um questionamento dos fatos e das causas, com o objetivo de buscar soluções e renovações.
No caso das culpas geradas por atos que verdadeiramente causaram danos a si mesmo ou a outros, pode-se ver que as mesmas geralmente interferem diretamente na autoestima, principalmente se são enterradas no esquecimento ou substituídas por autoengano, visando uma saída “honrosa” que consome grande parte da energia vital, assim como mantém a consciência obscurecida e autoimagens falsas projetadas no exterior que exigem constantemente justificativas para manter o “segredo” considerado imperdoável.
Quando a pessoa entra em um caminho de autoconhecimento, é possível reconhecer a culpa como um hábito repetitivo e um traço da personalidade que pode ser transformado pela atenção e contenção conscientes desse mesmo hábito.
Nos casos das culpas instaladas no psiquismo e que são provenientes de danos reais, durante o processo de autoconhecimento, a pessoa poderá eliminar de seu sistema esses obstáculos ao seu crescimento através do reconhecimento honesto acompanhado da possibilidade de perdoar-se e pedir perdão a quem seja necessário.
Esse reconhecimento surge a partir da humildade e sinceridade vivenciadas necessariamente com uma testemunha que, por sua vez, é uma pessoa que conquistou a confiança daquele que vivia a culpa de forma tão pesada. Podemos compreender esse peso com base em um pensamento de fundo (em geral obsessivo) de que é impossível ser perdoado, por si mesmo e, muito menos, pelo mundo.
A experiência do perdão é muito importante como meio para recomeçar desde um lugar limpo e saudável. Para poder chegar a uma experiência completa com o perdão é necessária uma postura aberta e confiante, vivenciada em companhia. Assim é possível uma expressão profunda, eliminando a ferida que se mantinha apodrecida enquanto a limpeza e cicatrização não ocorram definitivamente.
Suzana Stroke
7 comentários:
Na grandiosidade da misericórdia do perdão, suprime-se todas as culpas. Abraço, Célia.
O mais importante para mim ..é a honestidade..se temos culpa assumimos e prontos..bj querida..cheio de saudades...
"Todo o homem é culpado do bem que não fez."
Beijo.
Culpa e perdão, dá o que pensar! Dá o que falar!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//
Oi Lena,
posso dizer que tive uma aula!
Muito bom!
Beijos
Oi Lena! Passando para te cumprimentar e apreciar este belo, profundo e verdadeiro texto da Suzana Stroke.
Beijos e muita paz pra ti e para os teus.
Furtado.
oi minha doce amiga,
assumir as nossas culpas é meio caminho andado,
e acima de tudo perceber que não devemos mais cometer os mesmos erros,
acredito numa antiga frase que diz:
"fazer o bem sem olhar a quem..."
acho-a divinamente verdadeira...
beijinhos
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