É difícil não sentir esperança. A vida parece ter sido feita para isso. Em vez de um tempo contínuo e inacabável, dentro do qual a nossa existência teria o ritmo dos bichos, habitamos um tempo fragmentado, dividido, que se encerra e recomeça por ciclos – de uma hora, de um dia, de um ano. Esses períodos definem a nossa existência e ajudam a dar sentido a ela. Eles fomentam a esperança.
Lembro de uma conversa, já antiga, em que alguém me explicava, do fundo de uma grande tristeza, o alento que recebia de cada manhã. “Hoje”, ela me disse, “eu posso ser totalmente diferente do que fui ontem, mudar a minha vida, mudar eu mesma e começar do zero. Cada novo dia me apresenta a possibilidade de ser outra pessoa e deixar a dor para trás.” Essa não é uma definição soberba de estar vivo? Andamos tão presos ao passado que ignoramos a possibilidade de mudança embutida no futuro. Começar de novo é a maior delas – para todos nós.
Houve um tempo, quando criança, em que eu costumava me imaginar um homem feito. Teria 25 ou 30 anos, seria veterinário ou agrônomo, seria casado com uma mulher com cabelos de índia e olhos de jabuticaba e viveria, com ela e três filhos, numa casinha rural rodeada de colinas, com cerca de madeira e chaminé, como as crianças costumam desenhar. Nesse cenário idílico, que nunca se materializou, eu seria feliz, destemido e generoso, como os heróis dos livros. Sobretudo, eu estaria pronto, teria me tornado um adulto perfeito – e os adultos, toda criança sabe, não têm medos ou dúvidas.
Os anos se passaram e, a cada 12 meses, a criança que eu era se confronta com o adulto que eu sou. A conversa nem sempre é tranquila, mas é fundamental que ela aconteça. O cara que eu me tornei deve satisfações à criança que eu fui. Tem de lidar com os sonhos dela e com as ilusões que ela engendrava sobre o futuro. O homem tem de contar para o menino que as coisas não são como ele sonhava, que a gente não faz a vida exatamente como quer, mas que, nem por isso, deixamos de ser dignos e bons. É importante que a criança dentro de nós saiba, também, que nunca estamos realmente prontos, nunca crescemos inteiramente, e que as nossas dores – e essa é a pior parte da conversa – não somem quando ficamos adultos. Seguem conosco, mesmo não sendo parte de nós. São como espinhos na nossa carne, e é preciso arrancá-los. Existe, afinal, a esperança de viver sem eles no ano que vem, na semana que vem, amanhã.
A moça com cabelos de índia e olhos de jabuticaba tomou outras formas ao longo do tempo. Foi loira, teve olhos castanhos, cabelos crespos. Mas, em cada mulher real, havia algo da Eva infantil, primordial, que eu procurava como se fosse uma resposta absoluta. Aí há outra complexidade que o menino não previra. Parece não haver uma mulher na nossa história, mas várias. Parece não haver uma única resposta, uma única possibilidade. Também nesse terreno (o do amor), podemos tentar, recomeçar, sonhar, sofrer – ter alegrias e surpresas, enormes.
Então, eu penso, que venha o Ano Novo.
Que venham os velhos e novos amigos. Que o amor encontre o seu lugar na nossa vida e que saibamos reconhecê-lo, preservá-lo ou deixá-lo morrer, quando for preciso. Que o ano nos traga coragem para fazer coisas novas, coragem também para lidar com as coisas antigas que deixamos de lado. Que neste ano a gente se encontre – uns aos outros e a nós mesmos – de um jeito que produza mudança e transformação. Sem auto-indulgência, sem auto-piedade, sem mi-mi-mi. Que 2012 venha para alegrar a criança que fomos e nos ajudar a ser os adultos que merecemos ser – no novo ano, na próxima semana, no dia que vem por aí.
Lembro de uma conversa, já antiga, em que alguém me explicava, do fundo de uma grande tristeza, o alento que recebia de cada manhã. “Hoje”, ela me disse, “eu posso ser totalmente diferente do que fui ontem, mudar a minha vida, mudar eu mesma e começar do zero. Cada novo dia me apresenta a possibilidade de ser outra pessoa e deixar a dor para trás.” Essa não é uma definição soberba de estar vivo? Andamos tão presos ao passado que ignoramos a possibilidade de mudança embutida no futuro. Começar de novo é a maior delas – para todos nós.
Houve um tempo, quando criança, em que eu costumava me imaginar um homem feito. Teria 25 ou 30 anos, seria veterinário ou agrônomo, seria casado com uma mulher com cabelos de índia e olhos de jabuticaba e viveria, com ela e três filhos, numa casinha rural rodeada de colinas, com cerca de madeira e chaminé, como as crianças costumam desenhar. Nesse cenário idílico, que nunca se materializou, eu seria feliz, destemido e generoso, como os heróis dos livros. Sobretudo, eu estaria pronto, teria me tornado um adulto perfeito – e os adultos, toda criança sabe, não têm medos ou dúvidas.
Os anos se passaram e, a cada 12 meses, a criança que eu era se confronta com o adulto que eu sou. A conversa nem sempre é tranquila, mas é fundamental que ela aconteça. O cara que eu me tornei deve satisfações à criança que eu fui. Tem de lidar com os sonhos dela e com as ilusões que ela engendrava sobre o futuro. O homem tem de contar para o menino que as coisas não são como ele sonhava, que a gente não faz a vida exatamente como quer, mas que, nem por isso, deixamos de ser dignos e bons. É importante que a criança dentro de nós saiba, também, que nunca estamos realmente prontos, nunca crescemos inteiramente, e que as nossas dores – e essa é a pior parte da conversa – não somem quando ficamos adultos. Seguem conosco, mesmo não sendo parte de nós. São como espinhos na nossa carne, e é preciso arrancá-los. Existe, afinal, a esperança de viver sem eles no ano que vem, na semana que vem, amanhã.
A moça com cabelos de índia e olhos de jabuticaba tomou outras formas ao longo do tempo. Foi loira, teve olhos castanhos, cabelos crespos. Mas, em cada mulher real, havia algo da Eva infantil, primordial, que eu procurava como se fosse uma resposta absoluta. Aí há outra complexidade que o menino não previra. Parece não haver uma mulher na nossa história, mas várias. Parece não haver uma única resposta, uma única possibilidade. Também nesse terreno (o do amor), podemos tentar, recomeçar, sonhar, sofrer – ter alegrias e surpresas, enormes.
Então, eu penso, que venha o Ano Novo.
Que venham os velhos e novos amigos. Que o amor encontre o seu lugar na nossa vida e que saibamos reconhecê-lo, preservá-lo ou deixá-lo morrer, quando for preciso. Que o ano nos traga coragem para fazer coisas novas, coragem também para lidar com as coisas antigas que deixamos de lado. Que neste ano a gente se encontre – uns aos outros e a nós mesmos – de um jeito que produza mudança e transformação. Sem auto-indulgência, sem auto-piedade, sem mi-mi-mi. Que 2012 venha para alegrar a criança que fomos e nos ajudar a ser os adultos que merecemos ser – no novo ano, na próxima semana, no dia que vem por aí.
Ivan Martins
14 comentários:
"QUE VENHA 2012."
E QUE CONTINUE ME FAZENDO VISITAS FREQUENTES...
BEIJOS
JAN
Que nos completamos de fé, luz... e amor
Querida amiga Lena
Não existe ano novo
se não houver sonhos novos.
Desejo que neste novo ano,
cada dia de vida da sua história,
seja vivido de modo calmo e pleno,
e que possas viver
o mais intenso caso de amor
com a sua vida,
e com os que fazem parte da sua vida.
Aluísio Cavalcante Jr.
Oi, Lena! Magnífico o texto! Um banho de luz em novas esperanças!
Que venham todas e que nos tragam a capacidade de interiorizá-las e externá-las o mais possível! Seja feliz!
Abraço da Célia.
Simplesmente maravilhoso esse texto: que o ano novo nos ajude a resgatar a criança que fomos, e o adulto que merecemos ser, muito bom!!!
Que o ano novo seja feito de luz, paz e amor para todos nós, um abraço, Lena!
Que venha 2012 e que ele seja leve pra todos nós. Não é mesmo?
Um beijo grande
Minha querida!
Que esse ano prestes a se iniciar, nos traga coragem para mudar o que é preciso,lidar com coisas novas, para que nos encontremos conosco mesmo,e que possamos produzir boas mudanças ao nosso redor.
Abraços! Tudo de bom pra ti e os seus.
Uma reflexão perfeita e bela desta transição em ciclos,fica esta frase:
"O cara que eu me tornei deve satisfações à criança que eu fui".
E não é que vivemos bem assim?
Tivemos sonhos e mais sonhos,que se perderam no tempo de sonhar e culminaram no tempo do real.
Cabe não dar espaço para arrependimento de não ter sido o que se idealizou e assim ser feliz, no que se é, para que a vida seja plena e efetivamente feliz.
Adorei este texto amiga Lena.
Mais uma jóia que voce expões aos nossos olhos.
Uma linda passagem de ano a voce e familia.
Um carinhoso abraço de paz e luz.
Beijo.
Inté 2012.
OLÁ AMIGOS
DESCULPE MAIS AS MENSAGENS TEM QUE SER REPETIDA. POIS ESTOU DE VIAGEM MARCADA.
Os novos caminhos
que estão surgindo
te levarão com certeza
para o destino do sucesso
da alegria e da felicidade.
O amor deve estar sempre presente
na sua jornada.
A coragem jamais deve deixar
a sua bagagem.
Que em cada ano novo
você possa renovar as suas
forças e suas idealizações
muito sucesso no
Ano Novo que se aproxima!
FELIZ ANO NOVO
Que lindo texto!
Gostei muito e fez-me reflectir ou talvez até conversar com a minha criança interior.
Beijos
Um dia feliz
Lena
Que o ano que aí vem nos traga menos incertezas, mais coragem e, sobretudo Paz para enfrentarmos os desafios que, diariamente, nos aparecem.
BOM ANO de 2012!
Beijo
minha amada amiga,
Que 2012 venha para alegrar a criança que fomos e nos ajudar a ser os adultos que merecemos ser...
nada é tão parecido comigo como isso...
adorei,Lena!!!
beijinhos
Que venha então esse ano e que a nossa imaginação nos continue a fazer sorrir.
Lena
Passei para desejar um 2012 cheio de coisas boas.
Beijinho
Postar um comentário