Olho em volta e tenho a impressão de que vivemos em estado de confusão.
Um amigo decidiu sair de casa, mas sofre com dúvidas e medo. Outro descasou definitivamente, para viver uma aventura trepidante. Há a colega separada (cujo ex-marido descobriu que a ama), o grisalho apaixonado pela mulher mais jovem (que não sabe o que quer) e aquele outro que insiste em seduzir todas as mulheres do mundo, desde que sejam lindas e não gostem dele.
Eu presencio essas coisas todas e me pergunto quando foi que ficamos adultos.
Ao contrário do que diz a lenda, não me parece que esse estilo de vida reflita imaturidade. Ele é um jeito de ser. Havia uma convenção que nos protegia de nós mesmos e dos nossos desejos. Rompemos com ela e agora o mundo é o da ambiguidade permanente.
De um lado, a esperança atroz de ser feliz. De outro, a dificuldade em construir a felicidade. Aqui, todas as possibilidades do mundo. Ali, a incapacidade em fixar-se em qualquer uma delas. Sonhamos com romance e arrebatamento, mas, ao nosso redor, se multiplica o efêmero e a ansiedade. Permeando tudo, a liberdade e a possibilidade de tentar.
Às vezes tenho a impressão de que fomos expulsos do Paraíso.
Lá, havia um grande amor claramente reconhecível e um plano de vida simples, que começava cedo e se resumia à tarefa grandiosa de construir uma grande família. Em troca, tínhamos de manter sob custódia nossas inquietações e nossos desejos. Era um compromisso de longo prazo que exigia abnegação e disciplina. Não conseguimos. Fomos espiar pela janela, nos apaixonamos pelo mundo, ficamos entediados com o que nos cercava e deixamos fenecer a nossa escolha. Em uma única palavra, pecamos. Agora vivemos do lado de fora do Éden.
Eu gosto. Tendo morado sob a macieira uma longa temporada, descobri que é melhor ser adulto com todas as minhas dores do que viver em estado de graça domesticado. Aliás, nem tinha tanta graça assim. Aqui fora, desde então, a vida tem sido mais sincera. Sem trair as verdadeiras lealdades – a dos princípios, do amor, da fraternidade e da paternidade – é possível ser provisoriamente feliz, seguidamente. O que não quer dizer que não doa.
Outro dia, passando os olhos pelo Facebook, dei de cara com uma provocação: “A diferença entre os homens e os abacates é que os abacates amadurecem”. Quem escreveu foi uma mulher, claro. Eu ri, mas está errado. Acho que somos todos abacates, embora pensemos o contrário. O outro é imaturo, nós somos apenas verdadeiros e independentes. O outro não sabe o que quer. Nós, quando mudamos de ideia, apenas seguimos os nossos sentimentos. O inferno é o outro. Na forma de abacate, mamão ou beterraba.
Da minha parte, acho que viver os dilemas das relações – aos 20, aos 30 ou aos 60 anos – significa ser adulto. A solução que cada um dá para esses dilemas define personalidade e estilo de vida. Ninguém tem o monopólio da maturidade ou sabe o jeito certo de viver. Somos todos adultos. Cada um de nós sofre ou goza da maneira que escolheu.
Ivan Martins
11 comentários:
Lena,
Lendo seu post, comecei a pensar nas coisas que vislumbro e não entendo... das coisas que faço que os demais não compreendem,
E,
Me pegunto: quando é que deixei a graça e a leveza de meu coração de menina se perder, ou se esconder?
Porque crescer é complicar tudo, quando deveria ser o contrário?
Me perdoem os bons: mas estou em estado de confusão geral!
Bjkas mil!
oi Lena querida,
sabe acho ótima essa idéia de ser abacate,
porque quando maduro ele é uma delícia,
doce,saboroso,
e único...
e sabe o melhor,
num grande e frondoso abacateiro,
todos somos abacates,
mas cada um tem o seu tempo certo para amadurecer...
perfeito minha amiga,
perfeito...
beijinhos
Sorvi cada palavra desse teu texto enquanto desfiava minhas reflexões. Eu sempre fugi à missão intransferível de ser adulta, mas a vida impõe isso, apresenta obstáculos, perdas mudanças. Acho tudo um grande tormento, mas necessário, então tento descobrir como agir.
Como você desfia lindamente suas reflexões, viu? Lindamente...
Beijos.
Lena
o amadurecimento se dá a cada dia vivido.
Para todos!
Há quem esteja com 80 anos ou mais e ainda assim estão no aprendizado. Podem ter muita sabedoria e experiência, mas nem todas.
Beijinhos
óla amiga como está voce estou com saudades,amiga as vezes complicamos por demais a vida,nos preocupando com tantas coisas que tem pouca importancia deixando de lado as que realmente fazem sentido,cada ser reage de diferente maneira,as vezes valorizando demais aquilo que não tem valor,deixando de viver as boas
horas e situações que a vida oferece
se prestarmos bem atenção temos tanto a agradecer e tão pouco que pedir!!!um abraço minha linda amiga bjs com carinho marlene
Olhar uma situação com vários olhares e de vários prismas é amadurecimento, sabedoria que se adquire nas experiências que a vida nos proporciona. Ainda assim, muitas vezes enganamo-nos nas tomadas de decisões! Abraço e ótima reflexão de vida! Célia.
Lena,,
Ao longo deste tempo
Fico grata pela amizade e carinho
Um Feliz Natal
e
Ano Novo cheio de esperança
2012
Querida Lena,
Quando as coisas vão erradas e o momento é de crise, não pense que todos os seus esforços têm sido em vão, segue.
Talvez tudo tenha sido para melhor. Sorria... E experimente outra vez! Pode ser que o seu aparente esforço venha a ser a porta mágica que o conduzirá para uma nova felicidade, que você jamais conheceu. Você pode estar enfraquecido pela luta, mas não se considere vencido. Isso não quer dizer derrota. Não vale a pena gastar seu precioso tempo em lágrimas e lamentos.
Levante-se!
E enfrente a vida outra vez. E, se você guardar em mente a alto objetivo de suas aspirações, os seus sonhos se realizarão. Tire proveito dos seus erros. Colha experiências das suas dores. E, então, um dia você dirá:
“... GRAÇAS A DEUS EU OUSEI EXPERIMENTAR OUTRA VEZ,
E REENCONTREI A PAZ, O AMOR E A FELICIDADE..."
Que a paz de Deus permaneça no seu coração renovando suas forças e esperanças a cada dia!
http://www.youtube.com/watch?v=rRw715y39hU
Um abraço carinhoso da equipe do Yehi Or
http://hajalluz.blogspot.com/
adultescendo
as vezes é chato :/
Olá Lena,
Texto bonito e bem interessante. Traz um foco bem verdadeiro.
Cada um tem o direito de ser com é e de fazer as opções que julgar oportunas para a sua felicidade. Erramos às vezes... e dai? A vida é um constante processo de aprendizado; todos sabem disso.
Se caímos, levantamos e procuramos nos reerguer. Não cabe a
ninguém julgar nossas opções.
Concordo com o Autor. É melhor ser adulto e sofrer do que viver em uma mesmice intolerável.
Sejamos, pois, adultos. Buscar ser feliz sem trair os princípios básicos do SER é, ao meu ver, prova de maturidade.
Beijos.
Texto inteligente, a verdade é que os valores estão mudando, e isso é muito bom, o ser humano está se sentido mais livre para tomar suas próprias decisões, sem se basear naquelas antigas tradições que nos eram impostas desde o nascimento, dentro de casa, pela própria família e respectivamente pela sociedade. Ja to seguindo seu blog !
beijos !
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