22 de maio de 2012

Sensibilidade





Ela brota dos meus poros, me faz chorar e rir por coisas tão pequenas... Me faz sonhar grande! Ela me faz ver além, querer ir fundo, sentir o que passa no teu coração e me despir de primeira pra quem me dá a mão. Ser sensível requer coragem, não de músculos, nem lágrimas, ou força... Mas entregar o coração e sentir o do outro... Sentir as pequenezes da vida, dos pequenos seres, sofrer e amar tudo que vibra. A maldade ínfima se torna imensa e uma formiga se torna um leão. Toda vida que sofre me dói e meu coração quer salvar o mundo.

Essa intensidade assusta, dá vontade de sair entregando flores pra todo mundo, e, ao mesmo tempo, vontade de esconder e conter isso tudo para não parecer boba. Cabe tanto segredo aqui dentro, tanto amor, eu guardo a sete chaves tua vida, mas tenho medo de falar da minha.... Parece que as pessoas não guardam mais nada.... É muita coisa compartilhada, e eu sou uma ET por achar que privacidade é "coisa privada"....

Essa capacidade de sentir, devia ser dosada, deveria ser possível escolher o que sentir... Nossa! Eu sinto de tudo, num TODO, tão forte que acho que não SOU mais, eu SINTO. (...)

Em tempos de dedicação e docilidade escassa - pois nunca se tem tempo e o olho vê só o umbigo - esse amor e esse sentir tão claro e desprendido chega a assustar.... Um elogio é estranho, é mais fácil criticar......

Eu quero esse cuidado espontâneo com os outros, comigo. Tenho vontade que ninguém sofra por nada. Ser sensível aqui na terra dói, requer muita coragem. Muita. Toda hora.

Sinto saudade do verdadeiro, dos laços fortes, de antigamente, de gente madura e inteligente, da bondade que anda tão minguada, mas que noto estar crescendo em algumas pessoas... Sinto falta de bom senso. Ai, como eu sinto....

Estou muito emotiva, nostálgica, apaixonada...Sinto uma saudade de fazer a alma marejar, de um lugar que não sei onde é, mas que existe.... De alguém que foi e sinto todos os dias a falta... Sinto vontade de estar lá... Quando chega esse sentir, eu experimento, com toda a dor e verdade como saboreio a felicidade.

Não se admire se eu me afastar... Porque estou me aproximando do que vibra em sintonia comigo...Cada dia meu coração busca o completo, ele está cansado de pessoas mesquinhas, de fofocas e julgamentos, as pessoas mostram aparências; eu quero essência... Estou buscando o simples, a minha liberdade, o caminho do meu coração e amigos de verdade.

Eu até já tentei ser diferente, fazer o que não gostava, suportar o que achava errado, me calar, baixar a cabeça, agir como queriam, fazer de conta que não vi, não senti.... Mas eu vi, eu senti. e SINTO...

Não tem mais jeito: só consigo ser de um jeito: igual a mim!


Carolina Salcides







21 de maio de 2012

O que é ser feliz?



"A felicidade consiste em ser o que se é", afirmava Erasmo de Rotterdam no Elogio da Loucura". "A felicidade é algo final e autosuficiente, é o fim a que visam as ações", disse Aristóteles.

Ser feliz é, muitas vezes, uma ideia associada a modelos previamente estabelecidos por nossa sociedade: o consumo desenfreado, a posse de objetos, dinheiro, fama, poder, status e o consumo de drogas lícitas ou ilícitas Se observarmos nossos modos de vida hoje, veremos o quanto investimos na busca da felicidade, na ausência do sofrimento, na anestesia para as dores da existência. Ser feliz é, muitas vezes, uma ideia associada a modelos previamente estabelecidos por nossa sociedade: o consumo desenfreado, a posse de objetos, dinheiro, fama, poder, status. Quanto mais temos, mais tememos perder. Quanto menos temos, mais infelizes parecemos ser diante desse modelo.

Necessitamos atingir os parâmetros estipulados por um modelo econômico/social? Nossa felicidade se resume a quanto podemos gastar? E quando não temos recursos para gastar? E quando gastamos muito e, ainda assim, não atingimos o que considerávamos ser um estado de felicidade?

Há uma forte tendência atual a buscar a felicidade em drogas ou medicamentos. Anestesias para os problemas da existência, felicidade artificial, encontrada em drogas lícitas ou ilícitas. Necessitamos desses recursos? Se minha infelicidade é fruto de um problema que não resolvi, uma droga que provoque um estado de torpor, ou de felicidade artificial resolverá o problema?

Este é o movimento de muitas pessoas hoje. Buscam entorpecer-se para esquecer o que lhes traz sofrimento, o que lhes perturba a existência. Com isso, deixam ao lado os problemas, que ali permanecem, exigindo doses das drogas ou dos medicamentos cada vez maiores, somente assim conseguem não enxergar o que lhes perturba. Quando as dores se tornam insuportáveis, uma opção, muitas vezes, é desistir. Assumir o fracasso da existência e esperar, com a derrota, a morte.

Das muitas formas de morte, aquela que faz os dias parecerem sem fim, aquela que nos impede de ser o que somos, a morte em vida, é extremamente dolorosa. Então, mais alguns medicamentos para suportar a espera do fim. É preciso viver desta maneira? Alguém opta, livremente, por esta forma de existência?

Poderia ser um caminho mais adequado buscar formas para solucionar as questões que nos incomodam, ainda que isso implique em algum transtorno, em um pouco de sofrimento, em algumas dores? Talvez seja dolorido afastar os erros, os enganos, as falsas opiniões. Talvez seja triste descobrir que algumas coisas não são como pensávamos que fossem. Mais triste talvez seja perceber que o que escolhemos como caminho não é bem como imaginávamos ser. O que fazer diante de situações dessa natureza? Como produzir vida em nós?

"A felicidade consiste em ser o que se é", afirmava Erasmo de Rotterdam no Elogio da Loucura. Conhecer e respeitar aquilo que somos, as nossas necessidades, encontrar modos para exercer o que somos, pode ser um caminho saudável para a existência. Distante de padrões estipulados socialmente, longe da hipocrisia social que exige a anulação do que se é, como forma de ser, podemos valorizar tudo o que produz vida em nós.


Monica Aiub 
Texto resumido por Lena Simões


Acabando com o autoboicote






Por que será que muitas vezes nos vemos estagnados, sem força para agir? Ou pior, tudo começa a dar errado, ficamos confusos e nos colocamos no papel de vítima ou de sofredor?

Esse quadro, apesar de fatalista, ocorre em maior ou menor grau em todos nós. E a resposta é sempre a mesma: nós nos autoboicotamos! Seja por traumas passados, seja por complexo de inferioridade, seja por pura precaução, temos a incrível capacidade de fomentar nossa própria destruição. Pode ocorrer de uma maneira quase que imperceptível, quando, por exemplo, nos entregamos a um vício não tão forte, ao sedentarismo, à ansiedade ou a uma leve depressão. Mas o quadro fica mais complicado quando nos confrontamos com uma auto-sabotagem mais forte, quando nos tornamos escravos de um vício, da depressão profunda, da automutilação ou de problemas sérios de saúde, a diabete entre elas.

Existem inúmeras terapias bastante eficazes em trazer de volta o equilíbrio do eu e, com ele, a cura e a percepção do ser íntegro e pleno de opulência que de fato somos. No entanto, enquanto não nos confrontarmos com esse "inimigo" que existe dentro de nós, dificilmente reverteremos o problema, não importa qual seja a terapia. Esse inimigo somos nós mesmos, incentivados pelo que chamamos de "ganho secundário". Esse ganho com a dor é o prazer de ser a vítima, de sofrer, seja para castigar alguém mais, seja para castigar a si próprio por algum sentimento de culpa ou seja para continuar em sua própria zona de conforto, sem ter de lutar para vencer.

Não importa aprender na teoria que somos os heróis, capazes de vencer e obter a paz, enquanto não formos mais a fundo, entendendo que o buraco é mais embaixo. Se dependêssemos apenas da inteligência, teríamos soluções para tudo. Mas por que, então, não fazemos aquilo que sabemos que tem de ser feito? Por que, apesar de querer largar um vício sabendo de seus malefícios, não somos capazes de fazê-lo? Por que, mesmo sabendo que deveríamos manter o pensamento positivo, somos tão assolados pela negatividade?

Podemos responder que nosso inconsciente assim o quer. É aí que estamos nos deixando levar pelo autoboicote, que abrange sentimentos tais como: ausência, bloqueio e clareza.

Nos sentimos carentes de algo, quando estamos desalinhados entre nosso talento e desejos. Ou seja, queremos fazer algo, mas não temos a capacidade ou talento para tal. Ter claro qual é o propósito na vida já é, em si, a porta para a cura e isso requer um exercício forte de autoconhecimento e espiritualidade. Mais do que tudo, é necessário coragem para poder mudar o rumo e assumir nova realidade, para aprender algo novo e deixar de lado o velho. Enquanto não estivermos claros nesse ponto, iremos sempre protelar ou nos esconder sob alguma desculpa, ou pior, doença.

As barreiras que nos impedem a cura são as crenças limitantes de nos acharmos imperfeitos(as), de mantermos emoções negativas (medo, culpa, dúvida, ressentimento, etc.) e de nos deixarmos levar por condições físicas adversas. A base desse bloqueio é o sentimento inconsciente de insegurança e falta de autoestima. Por precaução, terminamos nos impedindo de ir em frente. Como isso é uma armadilha do inconsciente, vale estarmos cientes desse conceito e assim será mais fácil processarmos a mudança.

Quanto à clareza, faz-se necessário saber ouvir a intuição, a voz interna. Muitas vezes a situação ainda não está madura e temos que esperar. Isso pode ocasionar impaciência, desânimo e desejo de mudar de rumo. Mas talvez seja apenas uma questão de esperar o sinal verde. Pode muito bem ser, também, que o rumo não esteja certo. Novamente, quanto mais esclarecido estivermos sobre o que queremos, mais fácil será ouvir essa voz interna da intuição. Se não soubermos ouvir essas mensagens do guia interno, nosso inconsciente fará de tudo para que as coisas não dêem certo. Com esse guia ficamos cada vez mais esclarecidos sobre o quê e em que momento fazer.

A auto-sabotagem não precisa necessariamente ser considerada um inimigo. Temos apenas que compreender que uma parte de nós está tentando nos ajudar ou nos proteger. É só uma questão de aprender a usá-la e não necessariamente ir contra ela. Dessa maneira, mais do que simplesmente ficarmos cientes de nossa condição de vítima, estaremos dando um basta ao autoboicote.



Eneas Guerriero 

16 de maio de 2012

Simples assim



Gosto da minha casa.

Gosto das minhas flores: flores lilás, lavandas, hortências e tulipas rosas.

Gosto da cor branca (em tudo agora)...de sentir a paz, o silêncio e o perfume de alecrim.

Gosto de pisar no tapete de pele, sentir o ar gelado entrando pela fresta, usar meias listradas.

Gosto de olhar pela janela as folhas dançando com o vento, a palmeira arranhando meu vidro....

Gosto de sentir o sol da manhã aquecendo meu corpo.... de sentir o cheio de café novo.

Gosto do silêncio da noite, da lua cheia gigante na sala.... da taça de vinho na mão.

Gosto de sentir o conforto, o calor, o amor, as mãos entrelaçadas....

Gosto de misturar temperos, ouvir música francesa.... usar kimono florido.

Gosto de ver como as plantas crescem quando se cuida.... e murcham de repente.

De como a chuva cai sem pedir licença. De como se forma um arco-íris na parede.

Gosto de ver como a vida pode ser simples e surpreendente.

De como a rotina pode ser a mesma e ser diferente.

Gosto de sentir que o amor cresce... gosto de ver quando o olho brilha.

Gosto de sentir a leveza, a liberdade.

Gosto de me sentir assim: em plena Felicidade!

Simples, assim.


Carolina Salcides





10 de maio de 2012

Com o coração aberto






Às vezes, na estranha tentativa de nos defendermos da suposta visita da dor, soltamos os cães. Apagamos as luzes. Fechamos as cortinas. Trancamos as portas com chaves, cadeados e medos. Ficamos quietinhos, poucos movimentos, nesse lugar escuro e pouco arejado, pra vida não desconfiar que estamos em casa. A encrenca é que, ao nos protegermos tanto da possibilidade da dor, acabamos nos protegendo também da possibilidade de lindas alegrias. Impossível saber o que a vida pode nos trazer a qualquer instante, não há como adivinhar se fugirmos do contato com ela, se não abrirmos a porta. Não há como adivinhar e, se é isso que nos assusta tanto, é isso também que nos dá esperança.

É maravilhoso quando conseguimos soltar um pouco o nosso medo e passamos a desfrutar a preciosa oportunidade de viver com o coração aberto, capaz de sentir a textura de cada experiência, no tempo de cada uma. Sem estarmos enclausurados em nós mesmos, é certo que aumentamos as chances de sentir um monte de coisas, agradáveis ou não, mas o melhor de tudo, é que aumentamos as chances de sentir que estamos vivos. Podemos demorar bastante para perceber o óbvio: coração fechado já é dor, por natureza, e não garante nada, além de aperto e emoções mofadas. Como bem disse Virginia Woolf, “não se pode ter paz evitando a vida".





Ana Jácomo