20 de agosto de 2010

O sexo frágil



Fico admirado com a onipotência masculina. Quando pequenos nos ensinaram que homem não chora, que Deus nos criou corajosos com a finalidade de protegermos as mulheres, coitadas, seres frágeis prestes a esvair-se em lágrimas à menor comoção. Como sobreviveriam elas, não fosse a nossa existência?

Por acreditar cegamente nesses ensinamentos, assumimos o papel de legítimos representantes do sexo forte, mesmo que as evidências nos desmintam desde a mais tenra infância.

Não é exagero. As meninas começam a falar muito antes. Aos dois anos já constroem sentenças com sujeito, verbo e predicado, enquanto nessa idade mal conseguimos balbuciar meia dúzia de palavras que só a mamãe compreende. Você dirá que somos mais ágeis e mais orientados espacialmente. E daí? Qual a vantagem de virar cambalhota e plantar bananeira?

Na puberdade, elas viram mocinhas de formas e gestos graciosos. Nós nos transformamos em quimeras desengonçadas, metade criança, metade homem com penugem no bigode, espinhas em vez de barba, voz em falsete e loucura por futebol. Não é à toa que as adolescentes suspiram pelos rapazes mais velhos e nem se dignam a olhar para nossa cara quando nos derretemos diante delas.

No casamento, somos feitos de gato e sapato. Podemos estar cobertos de razão, gritar, espernear e esbravejar que no fim a vontade delas prevalecerá. É guerra perdida. São donas de uma arma irresistível: a tenacidade para repetir cem vezes a mesma ladainha. Com o passar dos anos, aprendemos a fazer logo o que elas querem; sai mais em conta.

Você dirá que pelo menos somos mais saudáveis, enquanto elas vivem cheias de achaques. De fato, nas mulheres a cabeça dói, o útero incomoda e o intestino não funciona, mas as desvantagens acabam aí.

No Brasil, arcamos com mais de 60% da mortalidade geral. A cada três pessoas que perdem a vida, duas são do sexo masculino. Os ataques cardíacos vêm em primeiro lugar. Começamos a correr risco a partir dos 45 anos; as mulheres só ao atingir a menopausa. Depois vêm os derrames cerebrais, seguidos pelos homicídios.

Fumamos e bebemos muito mais. Perto de 90% dos óbitos por acidentes de trânsito, quedas e afogamentos causados pelo abuso de álcool ocorrem entre nós. Somos mais sedentários e desleixados com a saúde. Tratamos o corpo a pontapés e fugimos dos exames preventivos como o diabo da cruz. Ir ao médico? Só quando chegarmos às últimas ou se for para ficarmos livres da insistência das mulheres que nos cercam.

Em condições sociais comparáveis, mulheres vivem mais do que homens em todos os países do mundo. No Brasil, nossas vidas duram em média 7,6 anos menos. A longevidade feminina é visível: compare o número de viúvas com o de viúvos que você conhece.

Ao perder a companheira, o homem de idade fica desamparado. Se não casar imediatamente e não tiver filhas ou irmãs por perto estará perdido, é incapaz de pregar um botão ou fritar um ovo. Na situação contrária, a mulher poderá sofrer, sentir falta, mas cuidará da rotina doméstica sem dificuldade.

Morreremos mais cedo e deixaremos nossas economias. Livres da repressão machista e do trabalho que lhes dávamos, elas terão 7,6 anos para fazer excursões turísticas e lotar vans para ir a shoppings e teatros, animadas e conversadeiras. Para muitas, não será fácil esconder o ar de felicidade plena.



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