26 de outubro de 2010

Embriaguem-se!



É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:

"É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".

Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.



Charles Baudelaire


Um comentário:

Dilso J. dos Santos disse...

Adoro Baudelaire... A descrição dessa poesia em prosa é quase a que me propus fazer em meu Blog: uma interpretação de um mundo embriagado de palavras e onde o tempo é uma utopia, um lugar onde tudo para na minha CRONUTOPIA (A PRÓPRIA UTOPIA DO TEMPO)!
Abraço querida!!!!!