5 de outubro de 2010

Opinião de mãe



Durante a infância e a adolescência, me lembro de pedir a opinião da minha mãe todas vezes em que me vestia. Mesmo quando a roupa era um uniforme escolar, perguntava se o moletom não estava “balão demais”, se a calça jeans não aumentava o tamanho do quadril. Invariavelmente, ela respondia que eu estava ótima – na maioria das vezes sem olhar para mim, absorta em seu trabalho.

Mesmo sabendo que a resposta seria sempre a mesma, todos os dias eu a procurava. Hoje, sei que buscava mais sua aprovação do que saber se a roupa me caía bem. Inclusive porque cheguei a ir para a escola com a blusa vestida do avesso, calças furadas, um pé de cada de tênis (sério, muito sério).

Mas, por um lado, tive alguma sorte com essa negligência. Segundo dois livros lançados recentemente nos Estados Unidos e resenhados pela revista americana Newsweek, as mães podem ser grandes responsáveis por desvios na autoimagem de suas filhas. Elas costumam passar mensagens negativas sobre a imagem do corpo das filhas, muitas vezes involuntariamente. Um deles, o You’d be so pretty if... (Você seria tão bonita se…), é autobiográfico.

Escrito pela jornalista Dara Chadwick, ela lembra o dia em que sua mãe colocou o monstro dentro de sua cabeça. Quando ela tinha 20 anos, saiu com a mãe para comprar vestidos. Insatisfeita com a própria imagem no espelho, a mãe disse a filha: “Se você achar que está gorda, é porque está.” Anos depois, a frase continua ecoando na mente da jornalista quando ela entra em um provador de roupas.

O outro livro, My mother, my mirror (Minha mãe, meu espelho), foi escrito pela terapeuta Laura Arens Fuerstein com base em frases fatídicas vociferadas por sua própria mãe e as de pacientes. Nele, ela diz que as meninas procuram se enquadrar na visão que as mães constroem delas. A opinião da mãe é como um espelho.

Em famílias com mais de uma filha, a primeira costuma ser vista como a responsável (meu caso), enquanto a segunda é tida como a popular. E as meninas reproduzem esse comportamento. Dara dá algumas dicas sobre como evitar traumas. Cuidado redobrado com o que se diz na frente das meninas, mesmo quando a crítica é para si mesma. Outro conselho é não deixar de fazer algo como dançar em um casamento porque está se achando gorda. Assim, mãe vai ensinar a filha que só as magras podem se divertir.



Laura Neves

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