7 de novembro de 2010

Culinária e sedução



Adoro cozinhar. Sempre achei verdadeira magia transformar certos alimentos em outros, completamente diferentes. Já fiz amizades do tipo “pra vida toda” ao redor de uma bacia de batatas, devidamente descascadas antes de virarem acompanhamento do almoço. Minha teoria é: quem divide com você, harmoniosamente, o espaço da cozinha serve para partilhar o resto da vida. Ninguém precisa ser chef ou expert em culinária para isso.

Se a teoria tem bases sólidas nas amizades, não há dúvida da sua aplicabilidade na vida amorosa. Considero poucas coisas mais sedutoras do que cozinhar para o ser amado. Não importa se você é mulher ou homem. Há um ritual especial em comprar os alimentos, higienizar, cortar, temperar, cozinhar, esfriar, enfeitar e servir. É alquimia. É generoso. É fascínio. Estamos falando de pura sedução.

De fato, poucas coisas são tão maravilhosas como provar um pouco de molho na palma da mão, sentindo o cheiro de cebola nos dedos, logo acima. E se o seu amor não for capaz de entender isso, ele merece perder muitos, mas muitos pontos por isso. Nada menos do que lavar toda a louça compensa tamanha falha de caráter. Já para o caso de ter a sorte de dividir a vida com alguém com sensibilidade suficiente, deixe que ele experimente o molho no meio da sua mão e que sinta o aroma. E não se esqueça das panelas no fogo, por favor…

Especialmente no mundo feminino, há algo de aromático e voluptuoso quando se prepara um prato para seduzir um homem. Para quem ainda duvida, aconselho assistirem ao filme “Como água para chocolate”. Além da certeza de que a comida é um código de comunicação, o filme narra verdadeiros fenômenos de alquimia em que sentimentos e alimentos convertem-se uns nos outros. Como disse: magia, prazer e sedução.

Confesso a vocês que poucas coisas me inspiram mais compaixão do que ouvir uma amiga dizer as seguintes frases:

- Jamais vou cozinhar para um homem. Vê lá se aceito ser explorada desse jeito! Humph.

Esforço-me para ficar em silêncio e consigo, na maioria das vezes. Sendo alguém que aprendeu amar panos de prato antes de se entender mulher, mantenho, em um canto bem escondido de mim, uma vontade enlouquecida de dividir os segredos de algo que pode ser incrivelmente erótico. Fico segurando a vontade de desmentir essa história de que apenas homem cozinhando é sexy e que mulheres na cozinha só lembram um universo doméstico e sem graça. Como confiar a céticas a sutileza afrodisíaca da sedução culinária? Não paro de pensar no que aconteceria se mulheres bonitas, divertidas e inteligentes conseguissem viver a culinária sem o peso da subserviência, mas com o poder do erotismo feminino. Falta-lhes descobrir que cozinhar dá “tesão em pé de mesa”. Em você. E no homem que a acompanha.

Penso isso tudo, mas também reconheço que, no fundo, Deus sabe o que faz. Mulheres lindas, engraçadas e geniais, se ainda por cima cozinhassem, tornariam-se irresistíveis. Concorrência desleal demais para nós, pobres mortais que, por sorte, mantemos esse fascínio gastronômico como reserva de mercado capaz de atrair nossos apaixonados. Então fica como um segredo entre nós.



Raquel Carvalho

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