4 de novembro de 2010

O dilema da mãe trabalhadora





Imaginemos uma trabalhadora que, após passar pelos obstáculos naturais do início da carreira, chega a um cargo de responsabilidade em uma empresa. O futuro na profissão parece sorrir para ela, mas ela também está apaixonada pelo maridão e mal pode esperar pela vinda do primeiro filho.

Nove meses depois, nossa trabalhadora está em casa com seu bebê recém-nascido. Sua empresa adotou a licença maternidade de seis meses, que passou a vigorar em janeiro, em troca de benefícios fiscais. Esses seis meses de convívio intenso com a mãe provavelmente vão beneficiar o desenvolvimento e a saúde da criança. A licença de 180 dias é considerada uma vitória para as mulheres trabalhadoras. Mas pode ser um tropeço na ascensão profissional de nossa jovem batalhadora.

É o que pensa, muito desgostosamente, Luciana Moya, especialista nas áreas trabalhista e previdenciária da consultoria Hirashima e Associados. “Infelizmente, aquelas mulheres que querem ser bem sucedidas em setores concorridos e de alta performance não podem tirar seis meses de licença maternidade”, afirma. “Ela deve voltar o mais rapidamente possível”.

Luciana fala com experiência pessoal. “Tive duas licenças maternidade de três meses”, diz. Antes de se tornar sócia de uma empresa, ela fez carreira na Arthur Andersen, gigante mundial do ramo de auditoria, que fechou as portas em 2002. Luciana lamenta não ter tido mais tempo com os filhos, mas acredita que a dinâmica corporativa é implacável com quem se distancia do trabalho por muito tempo.

Ela não crê que a mulher vá sofrer represálias por tirar seis meses de licença, mas acha que a longa ausência faz com que ela “perca a sintonia” com o chefe e colegas — o prejuízo viria “nas entrelinhas”. Com o afastamento prolongado, a mulher ficaria distante dos novos projetos e iria para o fim da fila de promoções, transferências e treinamentos.

É uma dilema que deve torturar as mulheres que enfrentam pesadas disputas por visibilidade nas empresas. Todas querem o melhor para o filho — mas dar o melhor para o bebê significa passar mais algumas semanas com ele nessa fase inicial da vida ou aumentar as chances de ele ter uma mãe com salário maior no futuro? Nós, homens (como pais, companheiros, amigos, chefes, colegas), temos a obrigação de contribuir ao máximo para que ela tome a melhor e mais tranquila decisão nesse momento. Só tenho a impressão que esse nosso ”máximo” será sempre pouco, diante do tamanho do dilema.

Diante das opções meses a mais com a criança ou escalada mais rápida na carreira (sua ou da sua companheira), o que você faria? O que você já fez?


Thiago Cid

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