16 de dezembro de 2010

"Coma menos, viva mais". Será?


Todos nós queremos viver mais e melhor. No século 21, nos apegamos à esperança de que a tecnologia e o avanço da medicina vão nos permitir enganar a morte. Ou, pelo menos, adiá-la. 

É por isso que caímos na tentação de aceitar toda e qualquer dica sobre como manter a saúde. E ainda espalhamos os conselhos por aí. Quanto mais simples mais irresistível a dica nos parece. Tenho a impressão de que ocorre um rebaixamento de nosso senso crítico quando a notícia nos traz esperança. Nunca paramos para pensar que ela parece boa demais para ser verdadeira. Pensamos justamente o contrário: a dica é tão boa e simples que só pode ser verdade. 

Um dos conselhos de saúde, na internet e fora dela, que mais me intrigam é o defendido pelos admiradores da restrição calórica. Segundo eles, um corte de 25% nas calorias consumidas diariamente prolonga a vida. Como assim? A quantidade de alimentos ingeridos a cada dia é um fator tão importante a ponto de interferir na longevidade? Quem come pouco vive 100 anos? 

Resolvi entender de onde surgiu esse conselho. Descobri que até hoje ninguém conseguiu provar que uma menor ingestão de calorias prolonga a vida humana. Desde os anos 30 essa hipótese é estudada pelos cientistas. Até o momento, os animais submetidos à restrição calórica são mais saudáveis e vigorosos. Parecem destinados a viver mais. 

Por que, então, até hoje ninguém conseguiu provar a mesma coisa em humanos? A primeira razão: é muito difícil resistir à vontade de comer coisas deliciosas e que extrapolam os limites dos pesquisadores. A segunda razão: como os pesquisadores vão controlar o que as pessoas de fato comem dia após dia? Não somos cobaias de laboratório. Temos liberdade, vontades e meios de obter todo tipo de comida. Ainda assim, pesquisas tentam superar essas dificuldades e explicar qual é, afinal, o papel da restrição calórica. 

O processo de envelhecimento, também chamado de envelhecimento “primário” refere-se aos danos que se acumulam em nossas células à medida que envelhecemos. Já as doenças que acompanham o processo de envelhecimento, chamado de envelhecimento “secundário”, são os problemas bastante prevalentes na velhice, como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. 

Nesse aspecto, a restrição calórica parece funcionar muito bem. Quem come menos e com mais qualidade corre risco mais baixo de sofrer desses males. Desta forma, muitas mortes precoces podem ser evitadas. Isso significa que a restrição calórica é capaz de evitar o envelhecimento celular e estender os limites da longevidade humana? Isso ninguém conseguiu provar. Quem acredita nisso pode estar superestimando o papel da alimentação no processo de envelhecimento. Você é o que você come. Mas não somente isso. Outros fatores (como genética, atividade física, tabagismo, qualidade da dieta) determinam de que forma e por quanto tempo vamos viver. 

Se comer menos não vai nos fazer viver 120 anos, pelo menos poderia nos fazer viver melhor os 70 ou 80 anos que os atuais índices de expectativa de vida nos reservam, não é mesmo? Que tal então promover a ideia da restrição calórica para toda a população? 

Reduzir 25% das calorias consumidas por dia requer grande esforço pessoal e recursos de aconselhamento médico e nutricional que a maioria das pessoas não têm. Mais importante do que se preocupar em contar e cortar calorias é seguir uma dieta rica e variada. E, claro, sem esquecer do prazer que pequenas transgressões alimentares nos proporcionam e nos fazem sentir vivos. A ilusão da imortalidade alimentada por ideias como a da restrição calórica é sempre atraente. Mas de que nos adianta viver muito se não soubermos viver bem? 

Cristiane Segatto

Texto resumido por Lena Simões

2 comentários:

orvalho do ceu disse...

Olá, querida
Quando me lembro do meu avô comendo de tudo aos noventa e quatro anos... Nossa!!!
Creio que seja a forma como nos vêm os alimentos...
Abraços fraternos e bjs de paz

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Lena, minha querida. Sou sempre adepta de comer menos.
Neste Natal vamos multiplicar amor.
Que sejamos portadores de paz.
Que possamos dar afagos, carinho, bálsamos de alívio, força e luz a todos aqueles que necessitam.
Que possamos germinar o amor entre as pessoas, fazendo-os fortes em meio à tempestade.
Neste Natal e em todos os dias de nossas vidas, desejo que a Paz e a Harmonia encontrem moradia em todos os corações. E que o Natal seja mais um momento em que as pessoas acreditem que vale a pena viver um Ano Novo.
Feliz Natal, Feliz 2011.
Beijos e que nossa amizade continue em 2011 com força redobrada. Beijos.