5 de dezembro de 2010

Dieta boa é fazer a própria comida



Já falei muito aqui sobre a importância de ler e comparar os rótulos dos alimentos para fazer as melhores escolhas e montar uma dieta equilibrada. Mas confiar apenas nos rótulos não funciona muito. Especialistas dizem que é muito mais fácil extrapolar nos teores de sal, açúcar e gordura comendo alimentos industrializados do que preparando tudo em casa, a partir de ingredientes frescos. Há que haver algum grau de conhecimento, bom senso e equilíbrio tanto no supermercado quanto na cozinha.

Eu não fui educada para ser dona de casa. Minha mãe trabalhava fora, e quem fazia meus almoços e jantares era a empregada. Mesmo nos finais de semana, ela não gostava muito do fogão, portanto também não tinha muito que ensinar. Resultado: até sair de casa, aos 17 anos, eu só sabia fritar ovo.

Meu primeiro arroz saiu quando eu já estava na faculdade e morava com uma tia. Depois, outra tia me ensinou a fazer molho de tomate, com tomates italianos. Mas as duas oportunidades que tive de aprender com elas não renderam muitos pratos. Por um bom tempo, o arroz e o macarrão ao sugo foram acompanhados por hambúrguer, salsicha e ovo frito. E foi de tanto ver aquela gordura branca grudada na frigideira depois de fritar o hambúrguer que eu entendi que não saber cozinhar era uma armadilha. Ou eu aprendia novas receitas, ou iria me alimentar mal.

No segundo semestre da faculdade, fui morar num pensionato. Já não tinha minha tia por perto para me dar lições culinárias, então só me restava improvisar. Comi muita comida sem graça até conseguir os primeiros acertos. Fiz sopa aguada, bife duro, frango seco. Com o tempo, descobri que meu arroz integral era melhor que o branco, porque nunca virava papa. E que nas saladas era muito difícil errar. E que minha comida era mais magra do que a que eu comia na casa da minha mãe. Minha cozinha foi se transformando no meu laboratório rumo à dieta ideal.

Fazer dieta é manter o controle sobre o que se come. É saber do que é feita a comida e escolher só o que vale a pena. É fazer as adaptações necessárias para alcançar os objetivos do momento. Preparar a própria comida é uma maneira poderosa de manter esse controle.

Tudo começa na hora da compra. Quando vou ao supermercado, tenho a péssima mania de espiar o que as pessoas na fila do caixa estão levando. Devo fazer uma cara suspeita quando vejo um carrinho lotado de garrafas de refrigerantes, pratos prontos congelados, sem quase nenhuma fruta. Um carrinho de compras desequilibrado é o primeiro passo para uma alimentação doméstica desastrosa.

Ultimamente, tenho feito minha lista de compras depois de examinar meus livros de receitas. Primeiro eu escolho quais pratos vou querer comer na semana; depois verifico quais ingredientes preciso comprar. As receitas precisam ter pouca gordura, pouco sal e pouco açúcar, incluir vegetais e ser fáceis de fazer. Já sei que não adianta escolher uma receita toda elaborada que depois não vou ter tempo nem paciência para executar.  As compras  tem de se encaixar na minha dieta ideal e caber no orçamento.

Mas é na prática que a gente descobre as verdades. Quando você separa as porções de cada ingrediente e prepara tudo do início ao fim, ganha uma noção muito melhor de como as comidas são feitas. Percebi isso depois de testar minha diarista como cozinheira. Por algumas semanas, eu fazia as compras e ela cozinhava, com base nas receitas que eu escolhia. Só percebi que a torta de espinafre que eu tinha encomendado levava óleo demais quando comi. Não bastava, portanto, escolher a receita. Era preciso dominar todo o processo.

Embora cozinhar dê trabalho e tome tempo, é bacana a gente se sentir inteiramente responsável pelo que vai comer. Se algo der errado, a culpa é nossa. Se algo der certo, o mérito é nosso. Se o corpo engordar, a culpa é nossa, e a conclusão provável será que está na hora de trocar o livro de receitas, refazer a lista de compras ou mudar o jeito de preparar a comida.

Também me surpreendi ao experimentar fazer em casa sobremesas sem adição de açúcar. Frutas assadas ao forno são um espetáculo, porque ficam macias e muito doces. Nem precisam de sorvete para acompanhar. Não é à toa que suco de maçã serve para adoçar geleia: já tem açúcar de sobra.

Eu não diria que fazer comida em casa é fácil. Ainda vou demorar para me considerar uma boa cozinheira. Mas gosto de tentar e de ir acrescentando conquistas no meu currículo culinário. Gosto principalmente de ser a maior responsável por proporcionar a mim mesma uma alimentação saudável e cada vez mais prazerosa.
Uma vez que a gente aprende a planejar as refeições conforme as próprias necessidades, a palavra “dieta” ganha outro significado.

Francine Lima

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