19 de maio de 2011

As agressões que ignoramos





Muitas vezes, somos vítimas de agressões que nem sempre nos damos conta e que com muita freqüência acontecem entre pais e filhos, famílias, casais, pessoas que se amam, enfim, nas relações cotidianas. Muitas delas nos causam culpa, doenças, conflitos. Parece ser difícil perceber essas agressões e, principalmente, os ferimentos que causam, pois em geral só é enfatizada a violência física e explícita. As agressões silenciosas nem sempre deixam marcas externas, físicas e visíveis, mas conseguem deixar marcas eternas.

Muita violência velada é transmitida pelas famílias nas entrelinhas da comunicação diária, mediante conselhos, avisos e cuidados que nos impedem de entrar em contato conosco e com nossas necessidades. Quantas famílias, ainda nos dias de hoje, ensinam que sentir e expressar sentimentos é sinal de fraqueza? Quantas vezes não fomos ou somos comparados com o irmão que é mais inteligente e que tira as melhores notas? Ou ainda, as críticas sob o legado, que são construtivas e para nosso bem? Que bem é esse que nos lembra a todo o momento que tudo que fazemos é errado? Por que é tão difícil elogiar o outro, valorizando o que faz de bom? Talvez por que irá percebê-lo como melhor? É mais fácil e tão somente, criticar?

Quantas pessoas não percebem que continuamente agridem do mesmo modo que foram agredidas? E quantas outras não permitem ser agredidas mesmo adultas? Quantas pessoas por medo permanecem acorrentadas, sem motivação interior para mudar, preferindo o comodismo, conformismo, aceitação, ainda que isso traga muito mais sofrimento que a mudança em si? Por que as pessoas esquecem que ao nascer todos trazemos dentro de nós a potencialidade para ser feliz e viver em paz? O controle e as manipulações estão presentes para dominar as emoções do outro e, inconscientemente, limitar seu crescimento.

Será que as pessoas são conscientes do quanto foram ou são vítimas da agressividade silenciosa ou o quanto reproduzem essa mesma agressividade sem se darem conta? Digo vítimas, pois constantemente são feitas com crianças. Será que o agressivo percebe quanto destrói a si mesmo e todos que estão à sua volta? Muitas vezes são pessoas tão destruídas por dentro que nem se dão conta da própria dor ou agressividade, ignorando esses comportamentos por considerá-los normais.

As agressões silenciosas são sutis e nem sempre são fáceis de serem percebidas, e por isso, perigosas. Muitas vezes são simples gestos, olhares, que reprovam, censuram, julgam. Em muitos casos, podem gerar doenças e quase sempre aquele que adoece num grupo familiar, inconscientemente, revela a doença latente do próprio grupo, sendo freqüentemente aquele que procura ajuda, não por ser o mais doente, como muitos acreditam, mas sim o mais sensível. O perigo é reforçado pelo aspecto repetitivo das atitudes agressivas, fazendo com que os envolvidos se acostumem com tais atitudes, podendo ser consideradas normais tanto por quem faz como por quem as recebe.

Muitas pessoas mantêm relacionamentos afetivos mesmo quando não há respeito, carinho, afeto, com total desinteresse pelo que faz e, principalmente, pelo que sente; da mesma maneira que foram tratadas durante suas vidas e acabaram se acostumando a essa realidade. Não conseguindo identificar a origem, os padrões se repetem, pois nem sempre há a consciência da agressão recebida. O que pode levar ao outro extremo, sentir-se agredido mesmo que não tenha sido, interpretando erroneamente alguns fatos e agindo também de modo agressivo.

Um exemplo muito simples é quando se referem a alguém como coitado, isso pode gerar um sentimento de alguém como incapaz de se defender. Ou ainda, quando ouvimos: fiz por você, ou não me separei por você. A princípio pode parecer uma frase de alguém preocupado com nosso bem-estar, uma aparente valorização, mas na verdade, revela uma provocação para que se sinta culpado, como se fosse: veja como me sacrifico por você. Ou quando foi fazer um desabafo e foi julgado em seus sentimentos, como se sentiu? Uma pessoa constantemente desvalorizada em tudo que faz, pensa ou sente, tratada com indiferença, desprezo, dificilmente acreditará em si mesma. E isso não é uma agressão silenciosa? Há muitos outros exemplos, basta lembrarmos com atenção frases que ouvimos, gestos que observamos, perguntas ou comentários que nos constrangem ou nos induzem a não reagir ou nos defendermos. Tudo aquilo que nos fere, nos agride, ainda que não seja pela violência explícita, com tapas e berros, pode ser considerada uma agressão silenciosa.

Passe um filme mentalmente sobre sua vida e perceba quantas agressões silenciosas não gritam ainda hoje, talvez depois de anos, dentro de você. Perceba quantas vezes se sentiu agredido e por não reconhecer esse fato, ainda se permite ser. O conhecimento dessas agressões pode ser muito doloroso, mas não será mais doloroso e destrutivo manter esses padrões? Só identificando seu sofrimento poderá buscar soluções e mudar aquilo que acredita ser necessário mudar. A dor será muito menor do que continuar ignorando as agressões que viveu, ou ainda, se permite viver.



Rosemeire Zago

21 comentários:

Aleatoriamente disse...

Lena querida.
Esse texto é simplesmente o Maximo!
Amei tudo que nele contém, pois nos mostra cada fator de vivencia muito bem expressado.
Precisamos ser mais amorosos com nossos corações e lhe afagar com o melhor carinho, o do amor.

Beijo.
Fernanda

Ale disse...

Quanta verdade no seu texto,

E vão se formando feridas na alma, calos no coração,


Precisamos repensar o que estamos fazendo, o que estamos transmitindo

urgentemente!

Meire Oliveira disse...

Lena, minha linda, essas agressões física ou emocional são um perigo, pois acabam se tornando um ciclo vicioso porque muitas crianças que passam por isso hoje crescem e repetem com seus filhos, mesmo muitas vezes não percebendo que estão repetindo os mesmos erros que os pais. Creio que a agressão verbal dói mais do que a física, apesar das duas mexerem com o psicológico. Mas muitos que passam por situações como essas, fingem que está tudo bem não só para os outros, mas para si. E isso é um perigo e tanto!

Querida, vc é um raiozinho de sol nos meus comentários, e não to falando das suas belas madeixas loiras, mas do seu jeitinho... vc ilumina meu blog com seus comentários. é um raio de sol virtual :) Amo vc. Tu já tens um lugar no meu coração. Bjo grande e meu carinho sempre, Meire.

Adriano Berger disse...

Lindo seu blog, Lena, foi um prazer conhecê-lo!

Uma das agressões mais doloridas para mim é a do silêncio, a do desabafo não dito, a do sentimento guardado e não expressado...

Grande abraço!
Adriano Berger

Hellen Caroline disse...

Lena,
muitas pessoas permitem sofrer e se conformam em estar assim porque é mais difícil lutar para que o sofrimento vá embora,lutar por um caminho de paz,e de felicidade é obstáculo maior do que sua triste e real realidade.
Tal qual como a vida,muitos existem,sem que queiram verdadeiramente viver.
Que possamos nos permitir viver enquanto podemos,amanhã ninguém sabe.
Sempre ótimos seus posts viu?
Beijo grande*
Pai te cuide!

Vera Lúcia disse...

ACHEI O TEXTO EXCELENTE.
ESTAS AGRESSÕES SILENCIOSAS MARCAM DEFINITIVAMENTE, GERANDO MÁGOAS QUE SE TRANSFORMARÃO EM DOENÇAS DO CORPO E DA ALMA, SE NÃO FOREM TRATADAS ADEQUADAMENTE.
BEIJO.

Mafalda S. disse...

Concordo plenamente contigo. Mas há luz ao fundo do túnel.

Esse legado transmitido por vezes de geração em geração, pode ser interrompido por uma única geração. E essa geração corajosa, pode mudar o futuro dos seus descendentes, pois o exemplo é a melhor das lições.

mfc disse...

Fazemos parte de uma sociedade em que a violência é latente!
Essa violência do silêncio, do desprezo, do ignorar... é das que fere mais!

Anônimo disse...

A verdade dita de uma maneira simples e direta pela Rosemeire Zago. Muito bom post Lena.
Beijos

Meire Oliveira disse...

Fico feliz que goste das minhas escolhas, acho que sou o tipo "sentimento a flor da pele"...daí ajuda rsrsrs Eu já escrevi mais do que hj em dia, tenho uns textos, não sou uma Clarice, mas já dá para o gasto! Seu e-mail é esse que está no blog mesmo? Se for vou enviar uns legais pra ti :)
bjo minha querida.

Anônimo disse...

Esses tipos de agressões talvez sejam as mais ofensivas de todas.

Um grande beijo em seu coração Lena!

Verinha

Peônia disse...

Olá querida!
Texto necessário para reflexão.
Tarde linda pra ti!
BjO!

Acácia Azevedo Studio Pottery disse...

Suas reflexões são muito pertinentes e acertivas, adorei visitar seu blog e voltarei mais vezes. Obrigada. Bjs. Acácia.

MARILENE disse...

É a imposição do sofrimento psicológico, cujas marcas não são invisíveis. Por isso é muito bom o texto. Cada um tem que entrar em si mesmo para apagar as cicatrizers.

Débora Andrade disse...

Devo, antes de tudo, agradecer pela sua visita ao meu blog. É uma verdadeira honra. Parabenizá-la pela organização e beleza do seu cantinho, realmente admirável. Os autores que citas, são realmente grandes mestres literários, e infelizmente, alguns deles, pouco conhecidos. Quanto ao texto que postou, posso dizer que houve, em algumas partes, um sentimento mútuo, entre mim e ele. E posso afirmar que as maiores cicatrizes que nos são deixadas, são as cicatrizes em nosso coração, em nossa alma. Mas quando se trata de qualquer tipo de violência, seja ela física, psicológica ou emocional, o silêncio é o maior atuante, ainda que não se perceba. É, sem dúvida, o protagonista. A omissão, o medo, o comodismo, ou seja lá o que faça com que alguém tome uma postura inerte, ou melhor, nem tome uma postura, é o que infelizmente faz proliferar, disseminar a violência, a agressão, independente da forma dela. Não digo que é fácil denunciar, colocar a boca no trombone, porque realmente não é, devido a uma série de fatores que originam o tal silêncio, como por exemplo, as relações de poder e hierarquia no âmbito profissional, e por aí vai. Sei bem que existe uma série de aspectos que influenciam na reação de quem sofre algum tipo de violência, mas o que posso afirmar com convicção é que quanto maior a dor, maior é o alívio que sente-se por sair dela.
Belo texto, belo blog, enfim! Você é bela.

Fraternal abraço,
Débora Andrade.

Sandra Portugal disse...

"Uma pessoa constantemente desvalorizada em tudo que faz, pensa ou sente, tratada com indiferença, desprezo, dificilmente acreditará em si mesma. E isso não é uma agressão silenciosa? Há muitos outros exemplos, basta lembrarmos com atenção frases que ouvimos, gestos que observamos, perguntas ou comentários que nos constrangem ou nos induzem a não reagir ou nos defendermos. Tudo aquilo que nos fere, nos agride, ainda que não seja pela violência explícita, com tapas e berros, pode ser considerada uma agressão silenciosa."
Nossa como em 5 minutos elenco exemplos do cenário exposto! Fato!
Texto expressivo e forte!
Temos que cuidar! bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

orvalho do ceu disse...

Olá, querida Lena
Nossa!!! Uma coletânea do mal que sofremos calados muitas vezes...
Ao menos ganhamos a empatia de quem escreve e posta sobre o Tema com a força das palavras aqui contidas...
Bjs de paz e ótima semana.

MA FERREIRA disse...

Uma coisa que me incomoda das as insinuações, brincadeiras sarcasticas agressões fantasiadas de piadas etc.

Acho estas pessoas covardes.

Eu prefiro que me digam verdades olhando no meu olho do que insinuações de mal gostos e risadinhas amarelas.

Um beijo..

MA

Catia Bosso disse...

Muito benvindo este texto... Grata!
bjs

Milene R. F. S. disse...

Nossa Lena, como é verdadeiro esse texto! Realmente o que mais fere e traumatiza, não são agressões físicas e explicitas, mas as sutis que dizem muito mais do que palavras... aquelas que machucam a nossa alma ás vezes para sempre. É preciso ser forte para encara-las de frente, assumi-las e assim não se deixar destruir por elas, preservando nossa auto- estima e auto confiança. Vc tem excelentes textos em seu blog, parabéns! Beijos.

Tatiana Kielberman disse...

E quantas são as agressões que ignoramos, não é Lena querida?

Aprendo tanto aqui!!

Beijo enorme!