Paixões arrasadoras, com "P" maiúsculo, daquelas para valer, são raras: uma, duas, três durante toda a vida. Em geral, dá para contar nos dedos. Não estou falando de minipaixões - aquelas que duram um dia, uma semana, um mês, nem de paixões vividas à distância, que podem durar anos. Estou me referindo às paixões clássicas, irresistíveis, avassaladoras, que colocam a vida de pernas para o ar e nos fazem perder o rumo de casa.
Se dependesse da nossa vontade, é claro que a paixão jamais acabaria. Mas estudos científicos mostram que esse tipo de envolvimento, quando vivido realmente (e não apenas sonhado), dura de dezoito a trinta meses. Ou seja, em média dois anos.
Como a vida pode fazer uma brincadeira dessas? Leva-nos ao Paraíso, transporta-nos ao melhor dos mundos e, em poucos meses - para os amantes, sempre um prazo insuportavelmente curto -, joga-os de volta à realidade.
Pensando bem, a natureza é sábia. Nenhum ser humano suportaria por tempo indefinido esse clima de constante expectativa, de enorme antecipação, de incontrolável excitação e de total incerteza que toma conta dos apaixonados. Assim, com o passar das semanas, o estado de graça que caracteriza a paixão começa a se alterar. Os sentimentos, pouco a pouco, vão assumindo outros contornos e novas possibilidades se abrem diante dos amantes.
Mas esta já é outra etapa da nossa história. Vamos tentar compreender o perigoso e fascinante campo da paixão. Visto de permanência no Paraíso é sempre por tempo limitado
Duas pessoas se cruzam numa esquina da vida, uma vai se chegando, se acercando da outra, até que, depois de um período de aproximações sucessivas, tudo parece possível. A partir daí, o outro, que era inatingível, torna-se atingível, o que era intocável torna-se tocável. Entramos numa atmosfera em que o sonho vira realidade e a realidade vira sonho.
Sentimentos têm história. Por isso, os dois falam de suas vidas horas sem fim, durante dias, semanas ou meses. Na verdade, estão partilhando suas experiências, tornando-as comuns. Assim, os enamorados reconstituem a própria existência, tecendo-a em conjunto. É como se cada um redescobrisse sua identidade à medida que se revela para o outro.
Quem melhor descreveu esse estado de amor nascente foi o sociólogo italiano Francesco Alberoni. Ele explica que, mesmo sendo necessário um grande esforço e bastante tempo para ser descoberto pelo outro, parece não haver lógica entre o que se fez e o que de fato aconteceu. Sempre foi mais, foi além.
No estágio inicial do amor, a pessoa amada é vista como única, singular e incomparável. Isso porque o enamorado concentra todos os seus sonhos no outro e reencontra nele todos os amores do passado (pai, mãe, amigo, amante). Nessa hora, você entrevê o Paraíso, e isso não é pouco.
É fácil reconhecer a fase do amor nascente. Você provavelmente já viveu a experiência: transfigurou a realidade, dissociou-se dela, idealizou loucamente o parceiro. Nesse momento, todos nós conhecemos esperanças sem limites e medos avassaladores; mergulhamos em certeza inegáveis ("Estou vendo com os meus olhos, sentindo na minha pele…") e incertezas negáveis ("Será que estou só imaginando, será que estou apenas materializando meu desejo?").
Segue-se então um período de deslumbramento em que ambos ficam cegos pela impulsão de serem felizes - é a sensação do "eu mereço". Porém, não existe visto de permanência por tempo ilimitado no Paraíso. O visto é sempre de trânsito. A vida pergunta qual é a finalidade da viagem: turismo, negócios, lazer? Um congresso de sexo e amor? E carimba no passaporte: três dias, uma semana, um mês. Três meses, com direito a renovação. Findo o prazo, temos de fazer as malas e voltar para a realidade.
Sabemos quando estamos delirando, mas sabemos também que não podemos viver em estado permanente de delírio. Então, o que fazer? Cronometrar os dias, as horas, os minutos? Fazer contagem regressiva?
Não se deve medir o tempo em que se ama. Só o tempo cronológico pode ser cravado, cronometrado. O tempo subjetivo, não. Todos nós temos um relógio interno que nos diz quanto amamos e com que intensidade.
Quanto vale uma noite de prazer absoluto? Quanto tempo duram ou ficam gravados em nossa mente um olhar, uma carícia?
Encontros, músicas, ruídos, gestos de ternura, pedaços de conversa, essas coisas não se medem, não têm preço.
Quando a pessoa desperta desse estado onírico da paixão, o que acontece é que a paixão termina, e isso, em geral, provoca a morte da relação, ou então uma metamorfose. O fim do deslumbramento abre espaço para que o amor renasça com outra cara. A fase da paixão estonteante deve ser vista como uma etapa de um processo que continua.
Depois que os amantes voltam a colocar os pés no chão, surge a possibilidade da formação do vínculo amoroso, e a importância desse vínculo vai depender da quantidade e qualidade das trocas que os parceiros forem capazes de estabelecer.
Maria Helena Matarazzo
23 comentários:
Apesar da saudade desse sentimento, prefiro o amor que se consolida após a paixão. E, honestamente, no meu caso fico muito feliz, por cada vez parecer maior. Creio que o segredo é regar essa plantinha que é o amor, um pouco a cada dia que passa.
Beijos
é... ler e reler ... ler e reler..
o amor sólido nos fortalece..
as paixões nos esvaziam com o tempo..
beijos linda Lena e obrigada pela companhia no Perfumes..
Lena, minha florzita, não é só o amor que é cego, aliás acho a paixão mais cego do que ele. E eita sentimento que traz ansiedade agarrada nele! Mas infelizmente ela sempre tem tempo para durar, diferente do amor que é eterno.
bjo gigante pra ti e uma semana cheinha de luz ;)
Que texto mais gostoso, amore mio!!!
Saudade demais de vir aki, tive um tempinho (que eu inventei né?!) só pra vir aki e te deixar um beijo enooooooooooooooooorme!!! ♥
Saudades...
A paixão é o vendaval e o amor a brisa que fica depois de tudo... Suave, calma, pacífica.
Paixão é bom, mas é traiçoeira, ela desestrutura a pessoa, enquanto o amor ao contrário, o centraliza.
Esse texto da Matarazzo arrasou mesmo.
Beijos Lena e uma semana maravilhosa pra você.
LINDO TEXTO LENA,NEM SEMPRE TEMOS OS PÉS NO CHÃO PARA POR OS PONTOS NOS IS
E INTENDER AS DIFERENÇAS,ENTRE AMOR E PAIXÃO,MUITO LINDA SUA POST COMEÇANDO
A SEMANA COM CHAVE DE OURO,
TENHA UMA LINDA SEMANA BJS COM CARINHO MARLENE
São momentos curtos, únicos, inigualáveis... e que nos transportam às nuvens!
Mas há que ter a noção que tudo é efémero.
Ah! Lena! Essa paixão avassaladora, que nos faz perder o chão é ótima, mas realmente não se pode viver uma vida inteira desse jeito. Tudo se transforma numa pessoa apaixonada e ela é incapaz de viver uma vida normal, ou seja, com trabalho, avazeres do dia a dia etc. Por isso, a paíxão transforma-sem em amor, algo mais duradouro, calmo e com característica de eternidade. Mas mesmo com o amor, que é tudo, ainda há momentos de paixões loucas e descabidas. Beijos, amiga e tenha uma excelente semana.
"Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas."
Beijinhos meus.
Olá Lena.
Também tive uma paixão que virou amor e que virou uma imensa amizade e dura até hoje. São cinquenta anos.
Beijo
Maria Luiza (Lulú)
UMA PAIXÃO VERDADEIRA DURA A VIDA INTEIRA QUANDO ACABA FICA AQUELA SAUDADE DOCE SEM MÁGOA QUENTINHA DENTRO DAS BOAS LEMBRANÇAS!
PELO MENOS É ASSIM QUE VEJO!
BEIJO
Paixão
Aquela que semeia borboletas no estômago a esvoaçar.
Que faz o coração parar de bater, para voltar a pulsar louco como cavalo a galope!
Xi...foi há tanto tempo, mas ainda me lembro!
Beijinhos com toda a luz, para continuar a iluminar estes textos!
Pode a paixão durar pouco mais de 2 anos, mas os momentos vividos perdurarão eternamente na lembrança.
Ela pode se consolidar em amor, com expectativas reduzidas, com união duradoura. Mas que vale a pena vivê-la, não tenho dúvidas.
Bjs.
É só para deixar um beijinho e dizer-te, obrigado.
:))
Antes de mais, quero agradecer-te a visita ao começar de novo. Espero que tenhas gostado e que apareças mais vezes. Adorei este texto e o tema. É claro que as paixões são optimas; todos com certeza já viveram uma paixão; mas...com o tempo esse sentimento muda e fica um outro, mais calmo, mais realista e tmbém muito bom; é este que permanece e, se for bem regado pode ser para a vida. É este que se mantem, como no meu caso por 35 anos. Não é nem melhor nem pior...é simplesmente diferente. Tudo muda, tudo se transforma e os sentimentos não fogem à regra. Com o nosso amadurecimento, os sentimentos também amadurecem e ficam diferentes. Um beijinho e me espera, pois voltarei. Até breve
Emília
adorei este texto.
kisses
Rosana
Bom o que eu li aqui...
E tão bom é estar apaixonada, não importa quanto dure...
Mas que seja infinito enquanto dure.
Louco, né?
Muito louco!
Bjs, menina!
Com carinho e uma flor
rosa
de Fátima
Olá Lena,
Viver uma paixão é tudo de bom.
Nunca se esquece, mesmo que ela não tenha chegado a se transformar em amor, simplesmente.
Mas ainda prefiro o amor . É mais paz, mais ternura, mais cumplicidade.
Beijo.
Oi Lena
Bom mesmo é quando a paixão se transforma em amor, aí realmente os corações entram em sintonia.
Bjux
olá querida!
Querida lembrei de uma paixão que vivi que me deixou de pernas pro ar,
paixão ardente...
depois virou amor.
um amor cheio de cumplicidade,
mas calmo,porem quente.
desse amor nasceu um filho.
adorei o post!
Esta é uma reflexão daquelas que parecem nos tirar toda roupa e deixar exposto numa sala de conferencia.É muita boa e feliz nas correlações de situações e emoções.Não tem como resistir a uma paixão nem tão pouco controlar sua intensidade para uma eternidade,mas fica lindo o amor que advem de uma desenfreada paixão cumplice.Gostei de sua pagina.Belas seleções com reflexões.Viajar é nossa liberdade de ser e mergulhar é se inspirar.Meu abraço Lena.
Lena querida...
Não sei quanto tempo dura uma paixão, ou quantas delas realmente teremos na vida!
Só sei que a minha atual parece ser eterna, não se acabar jamais... com prós e contras!!
Beijo grande!
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