5 de julho de 2011

O amor bom é facinho




Há conversas que nunca terminam e dúvidas que jamais desaparecem. Sobre a melhor maneira de iniciar uma relação, por exemplo. Muita gente acredita que aquilo que se ganha com facilidade se perde do mesmo jeito. Acham que as relações que exigem esforço têm mais valor. Mulheres difíceis de conquistar, homens difíceis de manter, namoros que dão trabalho - esses tendem a ser mais importantes e duradouros. Mas será verdade? Eu suspeito que não.

Acho que somos ensinados a subestimar quem gosta de nós. Se a garota na mesa ao lado sorri em nossa direção, começamos a reparar nos seus defeitos. Se a pessoa fosse realmente bacana não me daria bola assim de graça. Se ela não resiste aos meus escassos encantos é uma mulher fácil – e mulheres fáceis não valem nada, certo? O nome disso é baixa autoestima!

Também somos educados para o sacrifício. Aquilo que ganhamos sem suor não tem valor. Somos uma sociedade de lutadores, não somos? Temos de nos esforçar para obter recompensas. As coisas que realmente valem a pena são obtidas à duras penas. E por aí vai. De tanto ouvir essa conversa - na escola, no esporte, no escritório - levamos seus pressupostos para a vida afetiva. Acabamos acreditando que também no terreno do afeto deveríamos ser capazes de lutar, sofrer e triunfar. Precisamos de conquistas épicas para contar no jantar de domingo. Se for fácil demais, não vale. Amor assim não tem graça, diz um amigo meu. Será mesmo?

Desde a adolescência, e no transcorrer da vida adulta, todas as mulheres importantes me caíram do céu. A moça que vomitou no meu pé na festa do centro acadêmico e me levou para dormir na sala da casa dela. Casamos. A garota de olhos tristes que eu conheci na porta do cinema e meia hora depois tomava o meu sorvete. Quase casamos? A mulher cujo nome eu perguntei na lanchonete do trabalho e 24 horas depois me chamou para uma festa. A menina do interior que resolveu dançar comigo num impulso. Nenhuma delas foi seduzida, conquistada ou convencida a gostar de mim. Elas tomaram a iniciativa – ou retribuíram sem hesitar a atenção que eu dei a elas.

Toda vez que eu insisti com quem não estava interessada deu errado. Toda vez que tentei escalar o muro da indiferença foi inútil. Relato essa experiência para discutir uma questão que me parece da maior gravidade: o quanto deveríamos insistir em obter a atenção de uma pessoa que não parece retribuir os nossos sentimos?

Quem está emocionalmente disponível lida com esse tipo de dilema o tempo todo. Você conhece a figura, acha bacana, liga uns dias depois e ela não atende e nem liga de volta. O que fazer? Você sai com a pessoa, acha ela o máximo, tenta um segundo encontro e ela reluta em marcar a data. Como proceder a partir daí? Você começou uma relação, está se apaixonando, mas a outra parte, um belo dia, deixa de retornar seus telefonemas. O que se faz? Você está apaixonado ou apaixonada, levou um pé na bunda e mal consegue respirar. É o caso de tentar reconquistar ou seria melhor proteger-se e ajudar o sentimento a morrer?

Todas essas situações conduzem à mesma escolha: insistir ou desistir? Quem acha que o amor é um campo de batalha geralmente opta pela insistência. Quem acha que ele é uma ocorrência espontânea tende a escolher a desistência (embora isso pareça feio). Na prática, como não temos 100% de certeza sobre as coisas, e como não nos controlamos 100%, oscilamos entre uma e outra posição, ao sabor das circunstâncias e do tamanho do envolvimento. Mas a maioria de nós, mesmo de forma inconsciente, traça um limite para o quanto se empenhar (ou rastejar) num caso desses. Quem não tem limites sofre além da conta – e frequentemente faz papel de bobo, com resultados pífios.

Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer. Você está ali, na vida e a pessoa simplesmente gosta de você. Ou você se aproxima com uma conversa fiada e ela recebe esse gesto de braços abertos. O que pode ser melhor do que ser gostado por aquilo que se é – sem truques, sem jogos de sedução, sem premeditações? Neste momento eu não consigo me lembrar de nada.


Ivan Martins 

Barry Manilow - Mandy

31 comentários:

Peônia disse...

Linda seu selo tá aqui:
http://epifaniasdeumaflor.blogspot.com/2011/07/selo-200-seguidores-da-ma-ferreira.html

Beijo no coração.
Obrigada!

Mixha Zizek disse...

A coisa mais importante é ser autêntico e ser honesto com você mesmo. Mudanças mais, torna-se mais ainda da sua própria, a essência que significa ser-se. beijos

AquilesMarchel disse...

voce disse tudo que penso
perfeito

C. disse...

Ai ai amiga, me matei de rir com o comentário do AquilesMarchel... sorry!

Achei maravilhoso o texto, do começo ao fim. A conclusão é que "deixar livre" ainda é o melhor caminho. Por outro lado, "quem nao é visto nao é lembrado", quem sabe ajude a marcar território sem pressão, quem sabe? Num sei lidar direito com essas coisas, tanto é que só casei aos 37, depois de uma bela chifrada aos 19.

Adoro Barry Manilow, compotinha, me traz "lembranças cheirosas" iguais desse texto aqui debaixo :)

Beijinhos no core, ti love, nao esqueça.

Anônimo disse...

Sabes ,eu acho que hoje as pessoas pensam muito no amor mas não fazem nada por ele..são acomodadas...quando se ama de verdade não se liga a detalhe de passados e etc...ou toca ou não toca...bjs bom dia...

Hellen Caroline disse...

"Ser amado de graça, por outro lado, não tem preço. É a homenagem mais bacana que uma pessoa pode nos fazer." Perfeito.
Ser amado por nós mesmos,sem mostrar o que não somos,e através de nossa simplicidade e carisma de cada um,não tem mesmo preço nenhum.
Quem tem que se transformar para ser amado,certamente não será amor,será domínio!
Um dia lindo pra minha querida,Lena!
Beeeijos

Anônimo disse...

Moça linda!

Passando pra deixar um beijinho de férias! Até a volta! E obrigada pelo seu carinho! Su.

Rô... disse...

oi Lena querida,

que delicia
esse amor desinteressado,
você foi perfeita nesse texto,
me encantou...

muitos beijinhos

Meire Oliveira disse...

Lenoquinha mais doce desse mundo, esse texto é a minha cara, posso achar que é pra mim??? rsrsrs mesmo que não seja a carapuça serviu direitinho amore!!!! As relações mais bonitas que temos acontecem assim, espontaneamente, sem hora marcada, sem forçar a barra. Eu falo para caramba, mas se não me sinto à vontade com a pessoa não adianta que eu num vou conseguir tagarelar. Não acho que as coisas que vêm fácil vão mais fácil não, acho que as coisas que vêm de uma maneira leve como uma pluminha no vento, chegam posam em nossa mão delicadamente da maneira mais suave e leve desse mundo e ficamos ali bobos olhando para ela, tentando achar explicação para uma pluminha que Deus enviou direto a nossa mão e só quer que dela cuidamos e sejamos felizes passando momentos bons soprando ela por aí. As melhores pessoas e coisas que acontecem em nossa vida acontecem de repente e passam a fazer parte de nós como se sempre estivessem ali. Arrasou na música, adoroooo!!!!

Eu ri da mesma coisa que a Cris kkkkk

Hoje acordei mais tarde, to de férias amiga, por isso to pintando e bordando na área agora :) Vc é tudo o que falamos e falaram sim, aliás vc e a Cris são mais especiais do que desconfiam ser, vcs não precisam crer pra ser!! ;)

Te amo muito minha doce Estrelinha que brilha mais que todas as estrelas lá em cima!!!!!!

Fica com Deus sempre, bjokitas caramelizadas com todooo carinho!!!

Célia Gil disse...

Mais uma reflexão surpreendente, a que já nos acostumou e que preenchem os nossos dias! Bjs

Fê Iasi disse...

Adorei Lena! Sabe que agora depois de ler comecei a lembrar que meus melhores relacionamentos começaram assim, por acaso... Tão bom deixar por conta da vida... Bjo!

Sônia Silva disse...

Seus textos estão D+, cada fera que vc tem nos contemplado, nossa!!

A Maioria tem nos dados lições de primeira linha.

Bom dia, bjos Lena

Cynthia Brito disse...

Ser amado, de graça, realmente, não tem preço, minha amiga!!! rsrs

Eu adoooooro coisas simples! São um xodó só!

Beijo...

Graça Pereira disse...

No amor, prevalece a simplicidade e a autenticidade! "Fabricar" gestos, atitudes... a vida, não é nenhuma telenovela!!
Minha Querida o teu lindo selo está no Kanimambo! Obrigada por tanto carinho.
Beijocas
Graça

Cadinho RoCo disse...

Não sou muito a favor de situações previamente avaliadas e nem tão pouco generalizadas. Cada caso é um caso, cada situação uma situação.
Cadinho RoCo

Tatiana Kielberman disse...

Lena, querida...

Venho hoje agradecer o carinho de sempre em relação ao PddD e aos selos que você nos oferece! Isso é essencial e não tem preço, de verdade!!

Quanto ao texto, eu tinha lido em outro blog hoje mesmo e logo pensei: "É a cara da Lena, vou mandar pra ela!"... Você foi mais rápida e postou antes mesmo que eu enviasse... hehe...

Um beijo grande pra você!

CF disse...

Amiga Lena
Interessante texto...nós complicamos mesmo!!!??? Qd devemos ser espontâneos...queremos inventar e mostrar algo que não somos...se isto acontece no amor é um perigo, pois qd damos por ela criámos uma outra pessoa...uma das razões para tanto divórcio pouco tempo depois do casamento. Acabamos desconhecendo a pessoa com quem julgamos partilhar a vida!
bjs

Unknown disse...

Lena

Excelente escolha de texto como sempre!

Beijinho

Lilá(s) disse...

Estou perfeitamente de acordo com tudo o que aí está escrito! belissímo texto!
Bjs

Sandra Portugal disse...

Lena querida, você é uma pessoa que faz o amor ser facinho!
Você é doce, inteligente, gentil, muito querida!!!
Ubuntu para você!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida
O amor é mesmo "facinho"... o difícil é se deixar amar...
Ah!!! Esse medo implicante...
Bjs de paz

Claudia Caprecci disse...

Hoje só passei prá agradecer o carinho!
Beijos minha linda!

Catia Bosso disse...

LenaLindona!

Amar e ser amado é tudo de bom... mesmo que seja por pouco tempo... o que importa é que seja intenso e sincero...

Amo amar vc e seu ninho de aconchego mesmo q seja de madeira...rs

bjss meuss

Liberdade. disse...

Querida tem um presentinho
pra você lá no meu cantinho!

Cidinha disse...

Lena, seu texto diz tudo!Passamos por todas essas fazes, somos assim mesmo, pois aprendemos que devemos tomar certas atitudes e tantas vezes erramos.Esquecemos que o importante é amar sem truques, receber e ser recebido de braços abertos.Belo post amiga!bjs no seu coração...

Vera Lúcia disse...

Creio que ficar lutando por um amor acaba por destruir a auto estima.
Bom mesmo é amar por amar. O amor acontece. Simples assim.
Beijos, querida Lena.

MARILENE disse...

O amor há que ser gratuído mesmo. É na autenticidade que encontramos nossos momentos mais prazerosos.
Excelente texto (como todos que posta). Seu selinho ficou um charme lá no meu cantinho de mimos.

Bjs.

Artes e escritas disse...

Amar, um verbo de muitas surpresas. Um abraço, Yayá.

Milene R. F. S. disse...

É amiga, tem horas que insistir só piora as coisas, e é uma arte saber quando persistir em uma conquista e quando tirar o time de campo... eu geralmente não insisto muito quando percebo que a pessoa não está nenhum pouco interessada em mim... puxo o meu carro e parto para outra... bem, a gente recebe sinais né, e através dele dá pra saber se vale a pena tentar ainda ou o melhor é deixar pra lá... e não acho não que tudo que vem fácil não tem graça ( pelo menos em se tratando de relacionamentos ). Esse é um campo muito delicado e nele tudo depende muito né, cada caso é um caso e vc amar e ser amado simplesmente pelo que vc é, pelo que o outro é, sem batalhas, sem dúvidas é um acontecimento maravilhoso, delicioso... é só dar chance para vida e para o amor... ótimo texto querida, beijos!

JAN disse...

É...DESDE SEMPRE VALORIZAMOS O QUE É "SUADO" ("GANHARÁS O PÃO COM O SUOR DO SEU ROSTO")... SÓ QUE EM SE TRATANDO DE AMOR ROMÂNTICO, DEIXAMOS PASSAR O "FACINHO".

BELÍSSIMO TEXTO!

ABRAÇÃO

my thoughts. disse...

Caraca, o texto realmente foi incrível, adooooooorei mesmo, de coração! tá de parabéns! *-*
tenho blog também, se quiser dar uma olhada: myyeseuspensamentos.blogspot.com
obrigada, e parabéns novamente. beijo