12 de agosto de 2011

O amor como meio, não como fim




É hora de substituir o ideal romântico do amor que basta em si mesmo (por isso não dura) por uma relação que traga crescimento individual.

Há algo de errado na forma como temos vivido nossas relações amorosas. Isso é fácil de ser constatado, pois temos sofrido muito por amor. Se o que anda bem tem que nos fazer felizes, o sofrimento só pode significar que estamos numa rota equivocada.

Desde crianças, aprendemos que o amor não deve ser objeto de reflexão e de entendimento racional; que deve ser apenas vivenciado, como uma mágica fascinante que nos faz sentir completos e aconchegados quando estamos ao lado daquela pessoa que se tornou única e especial. Aprendemos que a mágica do amor não pode ser perturbada pela razão, que devemos evitar esse tipo de contaminação para podermos usufruir integralmente as delícias dessa emoção – só que não tem dado certo. Vamos tentar, então, o caminho inverso: vamos pensar sobre o tema com sinceridade e coragem. Conclusões novas, quem sabe, nos tragam melhores resultados.

Vamos nos deter em apenas uma das ideias que governam nossa visão do amor. Imaginamos sempre que um bom vínculo afetivo significa o fim de todos os nossos problemas. Nosso ideal romântico é assim: duas pessoas se encontram, se encantam uma com a outra, compõem um forte elo, de grande dependência, sentem-se preenchidas e completas e sonham em largar tudo o que fazem para se refugiar em algum oásis e viver inteiramente uma para a outra usufruindo o aconchego de ter achado sua metade da laranja. Nada parece lhes faltar. Tudo o que antes valorizavam – dinheiro, aparência física, trabalho, posição social etc. – parece não ter mais a menor importância. Tudo o que não diz respeito ao amor se transforma em banalidade, algo supérfluo que agora pode ser descartado sem o menor problema.

Sabemos que quem quis levar essas fantasias para a vida prática se deu mal. Com o passar do tempo, percebe-se que uma vida reclusa, sem novos estímulos, somente voltada para a relação amorosa, muito depressa se torna tediosa e desinteressante. Podemos sonhar com o paraíso perdido ou com a volta ao útero, mas não podemos fugir ao fato de que estamos habituados a viver com certos riscos, certos desafios. Sabemos que eles nos deixam em alerta e intrigados; que nos fazem muito bem.

De certa forma, a realização do ideal romântico corresponde à negação da vida. Visto por esse ângulo, o amor é a antivida, pois em nome dele abandonamos tudo aquilo que até então era a nossa vida. No primeiro momento até podemos achar que estamos fazendo uma boa troca, mas rapidamente nos aborrecemos com o vazio deixado por essa renúncia à vida. A partir daí, começa a irritação com o ser amado, agora entendido como o causador do tédio, como uma pessoa pouco criativa e desinteressante. O resultado todos conhecemos: o casal rompe e cada um volta à sua vida anterior, levando consigo a impressão de ter falido em seus ideais de vida.

Os doentes acham que a saúde é tudo. Os pobres imaginam que o dinheiro lhes traria toda a felicidade sonhada. Os carentes – isto é, todos nós – acham que o amor é a mágica que dá significado à vida. O que nos falta aparece sempre idealizado, como o elixir da longa vida e da eterna felicidade.

Diariamente, porém, a realidade nos mostra que as coisas não são assim, e acho importante aprendermos com ela. Nossas concepções têm de se basear em fatos, nossos projetos têm que estar de acordo com aquilo que costuma dar certo no mundo real. Fantasias e sonhos, ao contrário, têm origem em processos psíquicos ligados à lembranças e frustrações do passado. É importante percebermos que o que poderia ser uma ótima solução aos seis meses de idade, como voltar ao útero materno, será ineficaz e intolerável aos 30 anos. A bicicleta que eu não tive aos 7 anos, por exemplo, não irá resolver nenhum dos meus problemas atuais. É preciso parar de sonhar com soluções que já não nos satisfazem a adaptar nossos sonhos à realidade da condição de vida adulta.

Se é verdade, então, que o amor nos enche de alegria, vitalidade e coragem – e isso ninguém contesta –, por que não direcionar essa nova energia para ativar ainda mais os projetos nos quais estamos empenhados? Quando amamos e nos sentimos amados por alguém que admiramos e valorizamos, nossa auto-estima cresce, nos sentimos dignos e fortes. Tornamo-nos ousados e capazes de tentar coisas novas, tanto em relação ao mundo exterior como na compreensão da nossa subjetividade. Em vez de ser um fim em si mesmo, o amor deveria funcionar como um meio para o aprimoramento individual, nos curando das frustrações do passado e nos impulsionando para o futuro. Casais que conseguem vivê-lo dessa maneira crescem e evoluem, e sob essa condição seu amor se renova e se revitaliza.



Flávio Gikovate



Pet Shop Boys - Always on my mind


28 comentários:

Meire Oliveira disse...

Madeirinha com brilho estelar, no amor é preciso saber dosar, viver só em função dele é dar pause nas outras coisas e quando voltamos a elas podem estar perdidas.
O amor verdadeiro e saudável só é possível entrar em nosso coração quando há o amadurecimento, pois não haverá novelas mexicanas no meio do caminho, não haverá grandes tragédias, porque amor é sim importante, mas não é a única coisa que temos que viver em função. E esse danadinho só faz bem, na minha opinião quando tem mais tristezas que alegrias, mais tortura do que leveza não é amor, está passando para um nível obscuro de sentimento que na certa bem não acabará, ou pior ele acabará!

Que texto estupendo!!! E essa música eu adoro, ouvi muito com minha tia quando pequena, me traz recordações deliciosas. =)

Sabe, mãezinha-irmã do meu coração, vc é uma Estrela da qual a cabeça é uma madeirinha brilhante e adorável que reflete as palavras que nos faz pensar e analisar muitas coisas dentro e fora de nós. E seu coração de Estrela é feito de nuvem, "Além das nuvens" ou além desse coração podemos sonhar, brincar e dançar levemente e alegremente, tbm sentir todo o carinho que vem carregado nelas, porque nessa nuvem que pulsa dentro de ti só chove chuva de amor e carinho. E é por isso e pela EstreLeninha que vc é que ninguém aqui te abandona ou te esquece nunquinha.
Amore, vc é master especial!
Te amo de monte!
;)
bjokitas cristalizadas além das nuvens com toques amadeirados.

An@ disse...

Adorei o post.

Muito bom para avaliarmos nossos actos.

Obrigada pela partilha do texto tão verdadeiro.

Beijos
Um fim de semana feliz

♥Luciana de Mira♥ disse...

h gostei muito de ler seu texto :)

♥Luciana de Mira♥ disse...

Ah desculpe, agora que vi que no é seu o texto! Mas linda escola para post :) Amo o ES, mas etarei de mudanç para BA, que tbm mora no meu coração.

Rosana Garcia Hess disse...

maravilhoso texto
kisses
Rosana

Severa Cabral(escritora) disse...

Meu docinho de côco!
Para vc um bom dia!!!
Quem está preoculpada agora com vc sou eu,kkkkkkkk,como não aparecestes ontem no meu cantinho me fez falta...isso prova que quando os amigos se afastam e sentimos sua falta,é pq é amigo de verdade...
Vc já é para muita gente,e para mim vc nasceu para ser especial,aquela que não sai por nada,colada,kkkkkkk,pergunta prá Meirinha como é isso que ela sabe explicar muito bem,kkkkk
Texto fenomenal de de Flávio Gikovate para nos evoluirmos sempre...
Bjs de bom dia,quero te ver...se não meu dia não tem graça...

Wanderley Elian Lima disse...

Oi Lena
Uma relação só dará certo, se o amor romântico entrar de férias. O romantismo tende a escravizar o outro(a),e ninguém consegue viver sufocado, por mais que ame.
Bom fim de semana
Bjux

Anônimo disse...

É Lena.. complicado falar desse sentimento em que cada ser o coloca de maneira diferente.. porém acredito que o amor seja o sentimento que nos faça engrandecer e não que nos poda e nos faz estacionar.. isso para mim seria mais o sentimento de posse.. Depositar nele toda a responsabilidade para a resolução de nossos problemas.. colocando-o como uma tábua de salvação, é estar com o pé no fracasso.

Uma super beijoca em seu coração..
Verinha

Simone Audrei disse...

Oi Lena!
A maioria idealiza o amor, tem uma visão deturpada desde a infância, do que realmente significa o amor. Acreditam nos contos de fadas, em sapos que viram príncipes, no amor e uma cabana...
O amor, tem que ser trabalhado dia a dia, regado como uma flor, partilhado, compartilhado, cultivado...para não sermos emparedados pelo tédio conjugal e nem nos decepcionarmos, porque o companheiro não é o Príncipe Encantado, que cavalga num cavalo branco empunhando sua espada e nos resgata e finalmente nos leva para vivermos felizes para sempre, como sonhamos. É hora de acordar, de amadurecer, de viver um amor saudável, que não acorrenta, liberta.
Excelente escolha do tema!
bJS

Ale disse...

Lena,

Que lindeza!

A gente precisa aprender a ver as relações com outros olhos, com mais maturidade,


Um super beijo!

Anônimo disse...

Boa tarde, Lena.
ah... O amor. Um pássaro vadio que pousa em nós e mesmo diante de todos os aprendizados dos pássaros que em nós já fez ninho e voou, sempre nos rendemos às novas cores, ao novo canto. Nunca aprendemos as lições. "amor, eterno aprendizado".
Talvez Pascal tivesse razão: "o amor tem razões que a própria razão desconhece"
Ótima sexta-feira para você!

Van disse...

Leninha !

O amor é algo grande , mas que como diz o texto , deve lisonjear e fazer reverberar coisas boas em nós. Ele deve ser complemento e não base , único desejo.
Não devemos apostar todas as nossas fichas apenas querendo sermos felizes no amor , mas sim devemos , acima de tudo e qualquer coisa aprender a compartilhar. Amor é aprendizado , é lição , é mais do que estar junto é querer e saber porque se está junto !
Devemos sempre sabermos nos amar a fim de que o outro passe a nos enxergar como alguém e não como mero objeto , não como mera ponte. O amor é difícil , trabalho árduo e diário de conquistas e vivências , mas perfeitamente possível e alcansável quando se tem maturidade para encará-lo ! Grande Beijo e parabéns pelo bom gosto dos textos publicados !

www.meusescritoseoutraspalavras.blogspot.com

Imaculada disse...

Minha querida!
Amor! Ah esse amor!!!
Como é complicado! Vivemos uma vida inteira e não entendemos o amor.
Abraços! Uma linda tarde prati.

Anônimo disse...

Todo o texto é coerente e muito bom, de total aplicação pra nossa vida, mas esse trecho eu acho que resume toda a problemática levantada:
"a realização do ideal romântico corresponde à negação da vida. Visto por esse ângulo, o amor é a antivida, pois em nome dele abandonamos tudo aquilo que até então era a nossa vida. No primeiro momento até podemos achar que estamos fazendo uma boa troca, mas rapidamente nos aborrecemos com o vazio deixado por essa renúncia à vida. A partir daí, começa a irritação com o ser amado, agora entendido como o causador do tédio, como uma pessoa pouco criativa e desinteressante. O resultado todos conhecemos: o casal rompe e cada um volta à sua vida anterior, levando consigo a impressão de ter falido em seus ideais de vida."
Beijokas Lena, estou com um sono tão grande que quase durmo em cima do teclado. Que tenhas um restinho de sexta-feira muito produtivo, nem que seja pra nao fazer nada.
Fica com Deus minha flor mais linda do jardim.

Anônimo disse...

O amor romântico é lindo, mas só o amor maduro nos faz feliz.

Beijos Lena!

josenaide coelho disse...

O amor é tudo claro,mais não precisamos nos escravizar,apenas um pouquinho de doce pra não estragar o que já é bom,lindo texto,eu amo vir aqui e me inspirar um pouquinho.....................bom fim de semana,seja de muita luz e muito carinho,bjsssss

Vera Lúcia disse...

Olá Lena,
De fato o amor nunca poderá ser colocado como meta única em nossa
vida. Todos desejamos amar e ser amados, mas viver só de amor e para o amor não completa ninguém.
Lembro-me da esposa de um tio que disse, quando eu ainda era criança e achava que o amor era tudo, que sair só com o marido não tinha graça. Achei estranho no momento, mas depois compreendi que, após
os primeiros tempos de casados, algo mais era preciso.
Assim, creio mesmo que o amor é mola propulsora a nos fazer caminhar também para outras direções, para outros interesses.
Ótimo texto.
Beijos.

Smareis disse...

Oi Lena , lindo texto pra refletir do Flávio Gikovate.
Quando se estar feliz no amor tudo caminha as mil maravilhas, mas precisa de alguns cuidados, como valorizar, respeitar, admirar esse amor todos os dias para que não entre em rotina.
O amor precisa de renovo diário... Sendo assim consegue crescer e revitalizar sem carregar nenhuma frustações.
Deixo um beijo e ótimo fim de semana.
Beijos!
Smareis

Unknown disse...

Leninha doce

Vim só para agradecer a força e o carinho.
Hoje sem conseguir ler nem comentar!
Bom fim de semana.

Te adoro

Beijos

Toninho disse...

Ah, o amor.Há que ser o elemento agregador de particulas que se rotacionam criando a energia, que faz este ser crescer e acontece na mais perfeita formação e assim expandir e fazer feliz numa maneira incondicional.Lena um belo fim de semana a voce,com todo meu carinho e admiração.
Meu terno abraço.
Bju.

Claudia Caprecci disse...

Sabe minha amiga,acho que ainda não sei como tudo isso funciona.
Com relação aos filhos,é muito fácil definir o amor e senti-lo.
É algo simplesmente incondicional.
Mas na relação com a pessoa amada é algo bem mais complexo.
Principalmente depois de anos de convívio.
Digo isso porque sinto que o amor ao longo do tempo vai se transformando,mudando,até em função do histórico vivido pelo casal.
O que acho é que o relacionamento quando vivido com respeito,sinceridade,carinho,atenção,companheirismo,faz crescer esse sentimento ao qual chamamos amor.
Sem isso,sem cultivá-lo,tenho certeza,esse sentimento está fadado a morrer por maior que um dia tenha sido.
Tenho muito a pensar sobre isso.
Vou levar comigo mais esse belo texto escolhido por você minha linda amiga!
Beijos e um final de semana muito abençoado!

Anônimo disse...

Lena esse texto perfeito fala por si..pena ser sempre tão difícil...amei dos melhores que li aqui...bj..boa noite querida..boa noite.

Ingrid disse...

sempre uma nova reflexão querida..
ler devagar..
e fico feliz que tudo vai bem por aí..
beijos perfumados linda Lena..

MA FERREIRA disse...

Lena.. qualquer coisa que não traga
paz, é tudo menos amor.

Amor acalma, acalenta a alma, compreense..

Mas é dificil amar.. porque amor é desapego.. é liberdade.

Lindinha..adoro vc muitão!!

Fica bem..se cuida!!
Bj
Ma

MARILENE disse...

Concordo, plenamente. É mais fácil manter o amor quando ele não é o único quesito importante de nossas vidas, o centro de nosso universo.
Aliás, nem o vejo como um objetivo de vida, porque amamos, naturalmente. Os sentimentos fazem parte de nós.

Bjs.

AquilesMarchel disse...

mas é tão mais gostoso o amor não maduro
cheio de ideais né^^

Milene R. F. S. disse...

Que texto bom (só pra variar, rs )! E é isso mesmo amiga, amor que quer só pra si e esquece a vida e o mundo à volta é amor imaturo e um amor assim cedo ou tarde caí por terra...o pior nisso é quando vc permite que isso aconteça com vc de tão carente e desesperada que vc está é aí quando depois isso acaba e o outro vai embora, ou senão vc vai embora pq está sufocada é que vc fica sem nada, vc não tem mais nada, pq vc trocou tudo por esse amor insano! Amar e viver conjuntamente, usar o amor como alavanca de realizações isso sim é sensato, isso sim é maduro e pode ser duradouro! Um abraço, até.

Mirian disse...

Olá Lena!
Adorei o texto ,lindo como sempre!!!
bjkas uma semana abençoada...