5 de agosto de 2011

O gramado mais verde



Um dito popular faz menção ao fato do gramado do vizinho sempre parecer mais verde que o nosso. Curioso é imaginar que, de modo recíproco, o dono do tal jardim talvez considere nosso gramado melhor do que o dele. O mundo teria mais harmonia se a inveja existisse apenas com relação a questões paisagísticas. E o caldo engrossa pelo fato de que maridos, celulares, carros, viagens, filhos, empregos, abdomens, cargos, TVs e uma infinidade de outras posses, materiais ou abstratas, são potencialmente capazes de produzir desconforto intenso em quem identifica que o outro tem, faz, conhece ou usufrui exatamente daquilo ao qual não tem acesso.

O dilema na inveja é que no mundo sempre haverá criatura em condição melhor do que a nossa. Tudo é questão de pinçar um aspecto do eu e, automaticamente, sem consciência do que se faz, sair à caça de pessoas que nos sirvam de comparação; é um jogo infindo e perverso. Esse padrão destrutivo de funcionamento geralmente é aprendido cedo, no seio da família ou entre os amigos da adolescência. Em alguns casos, são pais que dão mostras de patológica competitividade, extremamente preocupados com o sucesso alheio, que anseiam por resultados e nunca saboreiam as vitórias pessoais ou dos filhos porque sempre haverá alguém um passo além deles. Os filhos não são valorizados pelo que sabem, sofrem pressão constante para alcançarem outros patamares.

Que saída existe para quem deseja transformar esse padrão comportamental? O primeiro passo é reconhecer em si sentimentos de inveja e seus assemelhados. Após dar-se conta da inutilidade da competição e de comparações desmedidas, pode-se cultivar um projeto pessoal no qual parta do princípio de que cada um é/sabe/tem exatamente o que, até aquele momento, teve condição. Não adianta impor para si parâmetros que cabem a terceiros. Somos frutos de uma história de aprendizagem iniciada por ocasião do parto, e que se entrecruza com predisposições biológicas e fatores sócioculturais, que afetam a coletividade. Do mesmo modo que aprendemos a sentir inveja, podemos aprender a deixar que a ocorrência desse sentimento seja apenas isso, um fenômeno privado a respeito do qual nada precisa ser feito.

Na verdade, recomenda-se fazer algo mais profundo. Reveja seus valores: que tipo de vida faz mais sentido, quais seriam as metas realistas, ajustadas ao seu perfil, e que trouxessem qualidade ao viver, sem afastar de si pessoas com as quais poderia ser bom conviver harmonicamente e com intimidade, em clima de confiança recíproca? Você vai sentir inveja e “deixar prá lá”. Suas ações vão caminhar na direção do que lhe faz bem, afinal somos dotados da capacidade de sentir uma coisa A e agir na direção B, oposta a A, isto vale nas ocasiões em que A não nos serve mais e B parece fazer sentido.

Lembro de histórias de gente muito pobre, como o faxineiro de um aeroporto, que encontrou uma mala cheia de dinheiro e a entregou às autoridades. Quanta coisa poderia ser feita com essa dinheirama? Tratamento dentário, TV de LCD, pagar aluguel atrasado, comer iguarias de preço proibitivo... A pessoa escolhe devolver a grana a quem de direito, unicamente pelo fato de sua consciência lhe dizer que “não é justo ficar com o que é dos outros”, mesmo participando de um contexto sóciocultural que lhe dirá “não seja mané, achado não é roubado”.

A inveja destrutiva pode ser combatida se nos ancorarmos, por meio de ações, a valores maiores, que definam o rumo de uma vida da qual naturalmente possamos nos orgulhar, dispensando comparações inúteis e escravizantes. Agir de modo compatível com esses valores automaticamente destituirá o poder motivador inerente ao sentimento de inveja. Então, abandoná-lo à míngua é o jeito. 


Regina Wielenska


Led Zeppelin - Stairway to Heaven
 



28 comentários:

Bloguinho da Zizi disse...

Lena
Bom dia!
Este texto é perfeito.
Me pega muito a questão dos filhos, onde os pais comparando-os com os filhos dos parentes, dos vizinhos e ainda dos amigos, fazem de tudo para que os seus atinjam um patamar mais elevado, fazem comparações e assim criam uma frustração que perdura pela vida.
É um dos grandes males que o homem ainda cultiva.

Beijinhos

Tânia Camargo disse...

Meire querida.
Desculpe andar "sumida", mas o trabalho, casa, filho(voltas as aulas), marido... Requer tempo e atenção em retribuição ao que me dedicam!
Gostei muito de seu texto.
Criei-me com minha mãe falando esse ditado. Para então nos dizer que a visão que temos da vida dos outros é parcial... Que eles tbm tem seus problemas e dores e por isso devemos sempre agradecer à Deus por que temos e nunca pedir mais. Se merecermos Ele nos dará!

Bj grande querida, e sempre andarei por aqui *__*

Tânia Camargo disse...

LENA!

Obrigada por partilhar esse texto....
Ele me remete à infância e as lições que minha mãe nos passava de agradecermos por o que temos e não compararmos nossos jardins com o dos vizinhos, pois eles sempre parecem mais bonitos.

Bj grande um big final de semana *__*

AquilesMarchel disse...

todo mundo jas sentiu inveja
ninguem é imune né Lena
é um sentimento humano

Shirley Brunelli disse...

Querida Lena, quem tem tanta inveja assim, demonstra não ter vida interior. Um beijo de luz!

Meire Oliveira disse...

Bom dia doce flor do dia!
Adorei o texto. A verdade é que quando vemos um jardim bonito na primeira vista não fazemos ideia da dimensão de problemas que pode ter ali, aparências enganam. Ao invés das pessoas ficarem se comparando sempre com os outros, elas têm que tentar superar a si mesmas, caminhar em direção ao que elas podem alcançar sem cultivar esse sentimento tão ruim que é a inveja. Sentimentos bons ou ruins é uma questão de prática, inveja só corrói o interior de quem a sente.

EstreLeninha querida, esse Amadeirado está cada vez mais aconchegante, é o tipo de lugar que sempre está bom, quando está calor, nos traz uma brisa boa que o cabelo até dança, quando está frio (que é o caso de hj aqui nesse interiorrr rs) traz uma brisa quentinha para acalentar nosso coração, acho que aqui é a madeira mais macia do mundo! E isso tudo acontece porque tem dedo de Estrela-anjo por cá.

Que Deus ilumine muito esse linda Estrela que eu amo.
bjokitas com super, híper, mega, master carinho que tenho por ti! ;)

Ale disse...

Inveja sempre é destrutiva,



Bjkas e um final de semana de paz!

Simone Audrei disse...

Coincidentemente usamos o mesmo ditado popular para falarmos de coisas ao mesmo tempo semelhantes por ângulos diferentes. Ontem postei um texto com o título "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe", lá uso este e outros ditados para uma reflexão a respeito exatamente do fato de sempre acharmos algo melhor na vida alheia.
Ótimo texto, muito bem selecionado.
Bj.

Sheila do Blog Passarinhos no Telhado disse...

Que ótimo texto Lena!

E é bem isso mesmo, o combustível da inveja é a "comparação"! Só vamos parar com essa doença quando acordarmos para o fato de que somos seres ÚNICOS e incomparáveis. Como dizia Osho..."se Deus quisesse que fossemos todos iguais assim ele teria nos feito". Acredito que temos que aprender a lidar com isso, parar de olhar só pra fora e olhar mais pra dentro e admirar nosso ser e nossas singularidades. Acho que essa é a lição!

Grande Beijo!

eva mooer disse...

A inveja destrói sua felicidade,porque o que se tem passa a não ter valor e sim o que o outro tem.Comparações de poder são nocivas e tornam os homens miseráveis.Muito bem dito seu texto....procurar valores maiores sempre.É isso mesmo.
bom final de semana.....

Anônimo disse...

Boa tarde,

Sempre bom vir aqui refletir sobre as coisas que realmente fazem a vida valer a pena.

Ótima sexta-feira para você, Lena.

Caca disse...

Perfeito o texto, Lena. O pior é que quando nos deixamos levar por sentimentos de inveja, a tendência é ficarmos obsessivos e redirecionarmos toda a vida em busca de ultrapassar o objeto, coisa, pessoa que nos provoca tais sentimentos. Vira uma vida infeliz ao extremo, por mais coisas que consigamos acumular. Bom mesmo é ser o que se é ou o que se pode ser com alegria e satisfação. Abraços. Paz e bem.

Van disse...

Lena , flor ! A inveja é humana , assim como são todos os outros sentimentos , cabe a nós levarmos em consideração o que fazermos com ela : quando sentem em relação a nós é importante não darmos importância a ela de verdade que assim como está ela fica , inerte , não causa danos.
Agora quando nossa em relação a outrem é preciso verificar se de fato ela mesmo procede , é necessária e é real , realmente desejamos e cobiçamos aquilo do outro ? Para quê e por quê isso nos seria tão mais útil ? Paramos para uma reflexão...Grande Beijo !

www.meusescritoseoutraspalavras.blogspot.com

Vera Lúcia disse...

Lena querida,
Desejar sempre o que o outro tem e achar que o que é do outro é sempre melhor causa sofrimento e uma insatisfação permanente. O sentimento da inveja é altamente nocivo e devemos aprender a nos alegrar com as conquistas alheias. Ele é tão ruim para quem inveja quanto para o invejado. A energia que circunda a inveja é desastrosa.
É melhor até que evitemos ostentar
para não despertar esse sentimento tão maligno.
Beijos.

Peônia disse...

"A inveja destrutiva pode ser combatida se nos ancorarmos, por meio de ações, a valores maiores, que definam o rumo de uma vida da qual naturalmente possamos nos orgulhar, dispensando comparações inúteis e escravizantes." Esse parágrafo sintetiza tudo perfeitamente bem Lena!
Excelente escolha!
Beijo!

Calu Barros disse...

O malefício da inveja encontra par perfeito na comparação e segue arrasando sentimentos por onde passa,destruindo relações, oprimindo familiares(os filhos, principalmente) e deixando um rastro de finitude nos corações que já esvaziados, murcham.
Excelente assunto, excelente texto, excelente escolha, linda Lena.
Bjos mil,
Calu

Sobre o Tempo disse...

Oi Lena! Belo texto! A inveja, este desejo de ter o que outra pessoa tem, não suportar que a outra pessoa seja melhor. É um sentimento humano que pode ser evitado. O melhor é compartilhar da felicidade alheia como se fosse tbem a nossa felicidade. Um ótimo fim de semana, Lena! Bjs

Sandra Portugal disse...

O tema inveja dá uma tese de pós-doutorado!!! Andei estudando um pouco isso, estava até lendo Nilton Bonder na Cabala da Inveja, mas interrompi a leitura desse livro! Preciso retomar!
Espero você no ProjetandoPessoas!
Um excelente final de semana!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

Claudia Caprecci disse...

Esse é mais um daqueles textos que eu gostaria que todas as pessoas pudessem ter acesso.
Não é por acaso que tenho indicado esse blog a tantos amigos,virtuais ou não.
Tenha certeza Lena que você diariamente está fazendo a sua parte para fazer desse mundo um mundo melhor.
Cabe a nós fazermos a nossa parte.
Obrigada minha amiga!
Tenha um lindo e iluminado final de semana!
Beijinhos.

Betha Mendes disse...

Um bom começo, rever os nossos valores e nos situarmos num contexto onde as diferenças são essenciais. Todos temos algo a dar, mas não somos tudo. Um texto para ser repassado a todos que amamos!

bj

Betha

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Não há nada pior que a inveja.
Estava aqui refletindo sobre a palavra "sentimento"...ela vem de sentir...Seria tão bom, e necessário, que o ser humano só sentisse o que é bom, o que traz o bem. A inveja é mesmo destrutiva...
Este texto está excelente, para ser trabalhado em escolas, em igrejas, em outros grupos sociais...é para um profunda reflexão...

Beijo, Lena

Milene R. F. S. disse...

Não existe arte mais destrutiva do que a arte da comparação... e como comparar pessoas e histórias de vida tão diferentes? Quando vc não se compara mais, vc compete consigo mesmo, ou seja, vc tenta superar os seus próprios limites e não o dos outros... essa atitude te liberta do sentimento de inveja que está sempre pronto a rondar todos nós... é assim que procuro encarar esse assunto amiga, ou seja: eu sou eu, única e os outros são os outros, assim consigo ficar feliz com as vitórias alheias e com as minhas também, sem misturar as estações... quanto ao seu comentário no melodia em versos, rs, vou te falar: eu tb sou uma manteiga derretida! rs. Um beijo querida amiga, e um ótimo final de semana para vc!

Cidinha disse...

Olá, Lena! Belo texto. Nos mostra a importãncia de refletirmos sobre nós mesmos. Essa vida de querer sempre mais, ser escravos do sistema, de que temos de ter sempre mais que o outro.È preciso viver bem de forma simples, afastando todo sentimento destrutivo! Bjs com carinho e obrigada pela visita!

MARILENE disse...

A inveja é por demais destrutiva. Leva uma grande energia negativa para seu objeto. E não faz bem a quem a sente, porque desejar o que outros possuem, sem lutar para as próprias conquistas, é parar no tempo e amargar sofrimentos inúteis.
Bjs.

Severa Cabral(escritora) disse...

Minha linda e querida amiga!
Vc está melhor.eu quase fui para o buraco,mas estou ainda por aqui querendo recompor o que perdi,uma amizade que morreu,rsrsrsrs,mas foi eu que matei,pq era preciso...isso é uma história profunda que dar um livro...
Esses dois sentimentos são destruidores da paz que se deve buscar para a harmonia da convivência. Apegos, medos e especialmente a insegurança pessoal, aliados ao egoísmo são seus geradores. Além da presença nos lares, nos relacionamentos, eles também comparecem com toda força nas amizades que se dizem ser verdadeiras...
Bjsssssssssssssssssssss

JAN disse...

LENA, HÁ UNS 10 ANOS, FIZ UM CURSINHO DE JARDINAGEM E PAISAGISMO, ONDE APRENDI QUE AO PLANEJARMOS UM JARDIM, DEVEMOS ANTES OBSERVAR AS CORES QUE O VIZINHO USOU, PRA NÃO "BRIGARMOS" COM O JARDIM DELE.

ACREDITO QUE ELA NEM SAIBA QUANTA COISA VEM ATRÁS DESSA DICA!

ABRAÇÃO
JAN

Rebekinha disse...

É a mesma história da galinha mais gorda do vizinho. Quando a gente nao está na pele do outro tudo parece melhor do lado de lá.
Beijinhos

Ingrid disse...

cuidar de nós mesmos já dá algum trabalho né... rsrs..
beijos de carinho..