5 de julho de 2012

Espírito aberto



Sabemos da quantidade de pessoas que passam necessidades reais, que estão desempregadas, que não têm como alimentar os filhos, que têm uma doença séria, enfim, ninguém ignora as mazelas do mundo. No entanto, muitas dessas pessoas que habitam as estatísticas não fazem parte do nosso círculo íntimo. Na maioria das vezes, nossos amigos e familiares estão bem, trabalham, possuem uma vida afetiva. Ok, eles têm lá seus problemas, mas não são exatamente o retrato da desgraça. Ainda assim, me espanta que muitos deles, mesmo sem motivo para cortar os pulsos, vivam como se fossem uns infelizes, lidando com o dia-a-dia de uma forma pesada, obstruindo o próprio caminho em vez de viver com mais leveza. São o que eu chamo de pessoas com o espírito fechado.

Eu respeito quem traz uma grande dor e não sai espalhando sorrisos à toa, mas me enervo com quem fecha a cara por simples falta de humor. Palavrinha mágica, esta: humor. Não me refiro a quem faz piadinhas a todo instante, e sim a quem possui inteligência suficiente para saber que é preciso relevar as incomodações, curtir as diferenças e ser generoso com o que acontece a nossa volta. Humor significa ter um espírito aberto. 

Esta é a resposta para quem pergunta qual é a fórmula da felicidade - alguém ainda pergunta isso? Eu responderia: ter o espírito aberto, só. O resto vem. Amigos, amores, oportunidades, até saúde: a fartura disso tudo depende muito da sua postura de vida. Não é evidente? 

Eu já fui um caramujo ambulante, daquelas criaturinhas desconfiadas, que torcia o nariz para tudo o que não fosse xerox do meu pensamento. Desprezava os diferentes de mim e com isso, claro, custava para encontrar meu lugar no mundo. Era praticamente um autoboicote. Me trancava no quarto e achava que ninguém me compreendia. Ora, nem podiam mesmo. Aliás, nem queriam. 

Um dia - e ainda bem que este dia chegou cedo, no final da adolescência - eu pensei: calma aí, quem vai me salvar? Jesus? John Lennon? Percebi que o mundo era maior do que o meu quarto e que eu tinha apenas duas escolhas: absorvê-lo ou brigar contra ele. Contrariando minha natureza rebelde, optei por absorvê-lo. Abracei tudo o que me foi oferecido, deixei de me considerar importante, comecei a achar graça da vida e, com a passagem dos anos, só melhorei, não parei mais de me desobstruir, de lipoaspirar mágoas e ranzinzices - a não ser que desejasse posar de poeta maldita, o que não era o caso. Me salvei eu mesma e fui tratar de aproveitar cada minuto, que é o que venho fazendo até hoje. 

Quando alguém me diz "como você tem sorte", penso que tenho mesmo. Mas não a sorte de receber tudo caído no colo, e sim a sorte de ter percebido a tempo que nosso maior inimigo é a falta de humor. Sem humor, brota preconceito para tudo que é lado. A gente começa a ter mania de perseguição, qualquer coisa parece difícil e uma discussãozinha à toa vira um dramalhão. Prefiro escalar uma montanha a viver desta forma cansativa.

Espírito aberto. Caso você não tenha recebido gratuitamente na sua herança genética, dá pra desenvolver por si próprio.

Martha Medeiros

4 comentários:

Rô... disse...

oi Lena querida,

cada vez que leio algo da Martha,
mais e mais me apaixono...
ontem postei um texto dela também...
cheia de verdades!!!

beijinhos

Ingrid disse...

sabe Lena,
o bom humor pode ser herdado ,mas também cultivado,aprendido..
e torna a vida melhor, mais leve, leva as doenças para longe ou pelo menos as retarda.
bela escolha querida.
que muitos pudessem aprender assim..
beijos de carinho.

Leninha Brandão disse...

Oi Lena,

Também adoro ler a Martha Medeiros,suas cr^nicas sempre contém uma lição de vida.
Eu já atravessei uma fase assim,era chamada de reclamosa,até o dia em que acordei e vi que a vida não girava ao redor do meu umbigo.Hoje sou calma,tranquila e me sinto sempre bem.

Bjsssss,amiga Lena,
Leninha

http://leninha-sonhoseencantos.blogspot.com

Mayla Nascimento disse...

Martha Martha, uma queridíssima que nos transmite de forma tão leve o que podemos melhorar, e é isso, humor!