2 de dezembro de 2010

Malhar cansado não vale à pena



Um professor-fonte-guru que tive na academia há alguns anos me ensinou que a gente deve colocar a prática física logo no primeiro horário disponível que tiver no dia, para não correr o risco de ir deixando pra depois e, no fim do dia, desistir em nome do cansaço ou da preguiça. Por causa disso, elegi a manhã como horário preferencial para minha rotina de exercícios. Apesar do sono que acumulo ao longo da semana, prefiro acordar cedo e cumprir meu programa na academia antes de ir ao trabalho.

O problema é levantar às 7h quando o dia anterior foi exaustivo. Esta semana me aconteceu isso. Tive dois dias consecutivos totalmente atípicos, com viagem de avião, festa até tarde, taças de espumante, noite curta em hotel, telefonema fora de hora, falta de táxi, estresse com a chuva e o trânsito, vôo atrasado, transferência de aeroporto, chegada tardia ao trabalho, pressa, falta de descanso.

Na manhã seguinte, quem disse que meu corpo se movia? Já eram 8h30 e minhas pernas não pareciam prontas para sair da cama. E então veio a dúvida inevitável: vou ou não vou? Fazer um esforço extra para levantar, tomar meu café da manhã rapidamente, correr para a academia e chegar um pouco mais tarde ao trabalho valeria a pena? Ou eu iria me beneficiar mais se, em vez de fazer força nas máquinas da sala de musculação, ficasse dormindo e passasse mais um dia (já tinha passado dois na semana) sem exercícios?

Eu não tinha a resposta, mas meu corpo só me deixou começar o dia às 9h30. Aparentemente, descansada. Já era um tanto tarde demais para seguir a rotina de sempre (café-academia-banho-trabalho), então decidi que inverteria a ordem e deixaria os exercícios para depois do expediente. Enquanto isso, eu tentaria descobrir qual exercício deveria fazer naquele dia.

Quem me deu a resposta foi o fisiologista Claudio Pavanelli, numa conversa por telefone. Ele me confirmou algumas coisas que eu já sabia. Disse que é durante o descanso que o corpo colhe os benefícios da atividade física. “A gente sai da academia pior do que entrou”, disse Pavanelli. Ele quis dizer o seguinte: o exercício gasta energia, consome nutrientes, libera resíduos tóxicos, causa lesões nos músculos e nos ossos. No final do treino, estamos estragados. O bom é o que acontece daí em diante. Para se recuperar do estrago, o corpo vai buscar nos seus estoques novos substratos energéticos e outros nutrientes para pôr no lugar dos que foram gastos. As lesões são consertadas, as substâncias tóxicas são tiradas de campo. Horas depois, está tudo muito melhor do que antes. Claro, desde que alimentação em repouso esteja em dia.

Essa recuperação pode ser mais rápida ou mais demorada, dependendo do tamanho do estrago e do estado dos nossos estoques. Se eu estou acostumada a correr quatro quilômetros na esteira e num domingo qualquer resolvo participar de uma prova de dez quilômetros, eu certamente não estarei tinindo de nova na segunda de manhã. Minha recuperação, nesse caso, será mais lenta.

Segundo Pavalelli, depois de um dia exaustivo como o que eu tive esta semana, meu corpo está quase tão acabado quanto se eu tivesse corrido os dez quilômetros. Não acabado do mesmo jeito, mas igualmente precisando de um repouso mais longo para retomar o pique de sempre.

Isso signfica que fiz bem em não pular da cama às 7h ou às 8h para malhar. Mas o conselho do fisiologista foi que eu não deixasse de fazer algum exercício naquele dia. O ideal, disse ele, seria fazer alguma coisa mais leve do que o usual. Dar preferência a um exercício aeróbio em vez do levantamento de pesos, e também um alongamento. Afinal, meu corpo estava precisando relaxar. Em vez de acrescentar estresse a ele com um esforço intenso antes de ele se recuperar totalmente, eu deveria ajudá-lo a alcançar de novo seu grau normal de disposição, para então poder exigir dele tudo de que ele normalmente é capaz. Quando meu corpo se sentisse de novo como um carro abastecido com gasolina de boa qualidade, eu poderia acordar cedo para pegar pesado.

A última dica do Pavanelli foi que eu procure sempre manter meu nível de esforço. No dia em que estiver mais cansada, devo pegar mais leve para me esforçar no mesmo grau, não mais do que sempre. Mantendo em mente que, entre descansar e treinar, a melhor opção é respeitar meu corpo.

Francine Lima

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bacana este tópico, procurei na internet algo que abordasse a procedência ideal ao ir academia em um dia cansado, porém não havia muita coisa.
Parabéns!! Foi bem útil.