2 de maio de 2011

Sou todo saudade





A saudade é uma separação que inventou o casamento.

Não é reencontrando minha mulher que desfaço o mal-estar de ter estado longe. Ainda que seja uma hora, um dia, uma semana.

Sentir saudade agora é sentir as saudades de minha vida com ela.

Saudade é uma experiência que não termina de terminar.

Com a saudade, não sinto falta dela, mas do que sou com ela.

Saudade é vaidade. Lamento a própria ausência, apesar de parecer preocupado com a ausência dela.

Saudade é o luto do meu pensamento, a morte do meu pensamento. É nunca mais pensar como solteiro; é pensar como casado daqui por diante. Jurarei que minha risada é mais extravagante em sua companhia, de que sou mais elegante em seus ombros, de que o mundo gosta de nos ver abraçados.

Saudade é não se bastar mais, é depender de alguém para continuar sendo. Depender de alguém até para deixar de ser.

Com a saudade, finjo que me preocupo com minha amada, mas é apenas um jeito de me preocupar comigo. Ela não está mais perto para me melhorar, me antecipar.

Não é que posso perdê-la, eu é que posso me perder longe do que já fui com ela.

Saudade é uma soma daquilo que não somos quando o outro se afasta e daquilo que somos quando o outro está junto. É a certeza de nossa insuficiência. Representa um desfalque da personalidade. Passo a me dar conta de que somente existo para me exibir à ela. Isolado, tenho a sensação de engano, de boicote, de que não nasci inteiro, de que não morrerei inteiro. Minhas palavras ficam tímidas; meu rosto, desafinado.

Saudade é imaginar por dois não sendo mais nenhum. É agir solitário no plural.

Não é uma generosidade, mas seu contrário: um profundo egoísmo; não queremos que amada se distancie para que ela não descubra nossa desimportância. No fundo, é o medo de que a nossa companhia não sinta saudade. O receio do fim. A primeira histeria. A primeira crise de nervosismo.

Saudade é uma covardia corajosa, uma ansiedade cheia de paciência, uma preocupação despreocupada. É se ofender elogiando outro, é se elogiar ofendendo o outro.

Saudade é uma antecipação do abandono. Uma despedida provisória que dói igual a um desenlace definitivo. É um aceno que não entrega a mão ao ar, um cumprimento que não fecha os dedos.

A saudade é acordar na sexta como se fosse sábado. É vestir nossa roupa predileta para permanecer em casa. É arrumar a cama para dormir no sofá.

A saudade surge antes da saudade. Definimos dentro do fato qual será a lembrança de que sentiremos saudade. Sentimos saudade no meio da experiência.

Saudade é uma alegria entristecendo.

Porque toda alegria só será definitiva depois da saudade. Depois da tristeza.



Fabrício Carpinejar 

21 comentários:

Unknown disse...

Lena amiga con certeza bela verdadeso depois que a felicidade sera eterna...

saludos
otima semana}
abracos

Anônimo disse...

Que lindo!
Adorei!
Beijos meus e uma boa semana pra ti!

Sandra Gonçalves disse...

Tem selinho lá no Meu Aconchego pra vc.Meus 500 seguidores.Queria dividir com vc essa alegria. Beijos achocolatados

Anônimo disse...

Nossa lindíssimo o texto Lena.
Li e reli, não conhecia o texto e achei interessante essa abordagem de saudade.
Bom dia e uma semana maravilhosa para você.

welze disse...

que triste alegria, não é mesmo? lindo demais da conta. boa semana

Unknown disse...

Oii..
tem selinho no meu blog pra vc!
e não se esqueça das regrinhas, rs

Beijoos
http://pathyoliver.blogspot.com/2011/05/300-seguidores-o.html

Meire Oliveira disse...

saudde...é uma palvra/setimento doído. Cada um tem sua maneira de sentí-la...mas de todas as maneiras é doloroso. Lindo texto querida, bjo bem grande pra vc =)

Calu Barros disse...

Lena,
cada definição coube mais e melhor que a anterior.Saudade traduzida e bem explicada pelo autor que destacou no texto cada fato para cada um.È só escolher o caso, só expor o sentido, só declarar o sentimento: Saudade!
Estou sempre com saudades. Me vi em muitos parágrafos.
Saudades, Leninha.
Bela semana p/ ti,
Bjos,
Calu

A.S. disse...

Lena,

"Saudade é uma alegria entristecendo".

Sim... completamente!

Beijos,
AL

Peônia disse...

Abordagem interessante essa!
Tenha uma semana linda!
Beijo!

Peônia disse...

Abordagem interessante essa!
Tenha uma semana linda!
Beijo!

blog da Paraguassu disse...

Olá Lena querida,
Falar de Carpinejar é um luxo só. É maravilhoso. Orgulho-me de morar na mesma cidade deste gênio da literatura de nossos dias.
Encanta-me como ele escreve a vida tão cheia de coisas bem próprias dela e disso faz poesia e poema. É encantador!
Um grande beijo para você,
Maria Paraguassu.

Lilá(s) disse...

Lindíssimo este texto!
Bjs

Wanderley Elian Lima disse...

POI Lena
A saudade já faz tanta parte de nossa vida, que já não sabemos viver sem ela.
Bjux

Quando a vida dentro de mim se tornou possivel disse...

Esse Fabricio escreve demais!! adorei!!
Bjs lena

Vera Lúcia disse...

Já dizia Bilac: "Saudades: presença
dos ausentes".
Lindo texto.
Abraço.

Rô... disse...

oi Lena,

estava andando por esses lados,
e encontrei uma luz acesa,
resolvi entrar,
ah,que delicia de lugar,
já me acomodei,

desculpe a invasão,
se quiser estou te esperando com um café quentinho...
a porta está aberta é só entrar

beijinhos

Sandra Portugal disse...

Lindo texto maravilhosamente emoldurado por uma foto que diz tudo! parabéns querida, você como sempre me surpreende a cada postagem!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogsapot.com//

Diana Carla disse...

ola passando pra agradecer a visita...e ja estou seguindo gostei dostextosque encontrei aqui..voltarei mais vezes!!!

MARILENE disse...

Saudade consentida: uma ausência que logo vai acabar, que pode ser suportada.

Saudade sofrida : dor da ausência definitiva.

É assim que vejo a saudade, mas o sentimento é o mesmo, sempre que ela aparece.

kiro disse...

Que texto triste... ♥